ISSN 2359-5191

15/12/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 132 - Arte e Cultura - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Pinturas literárias da cultura indígena hispano-americana compõe Simpósio na FFLCH
Em breve análise das obras de Sahagún e Las Casas professora destaca importância de estudos da cultura latinomericana

São Paulo (AUN - USP) - Uma das palestras realizadas no IV Simpósio de Filologia e Cultura Latino-americana foi a ministrada pela professora Maria Aparecida Franco Pereira. O Simpósio ressaltou a importância dos estudos latinos, em contra ponto com a cultura européia que ainda é dominante. “O povo latinoamericano tem muito a dizer”, ressaltou a professora que buscou dar uma visão geral de duas obras de dois padres que vivenciaram a dominação desses povos no século 16, Sahagún e Las Casas.

Antes de tratar dos autores, ela passou por mais detalhes da cultura pré-hispânica do século 16, principalmente no México. Eram vários os povos que habitavam a chamada Mesoamérica, região dos altiplanos reconhecida hoje principalmente como parte do México. Embora os astecas e os maias sejam os mais famosos, essa é uma cultura ainda mais abrangente. A professora ressaltou que todos tinham deuses importantes, com uma alta cultura, não a renascentista que aparece na Europa, mas também de alto nível, como se nota em suas pirâmides escalonadas, locais onde faziam seus cultos.

“Eu estive em Turun e fiquei encantada. Um lugarejo que não tinha luz, nem nada. Resolvi comprar um vídeo de lá e quando assistir confirmei que o céu ali era um tapete cheio de estrelas. Ai deu pra entender porque eram tão ligados ao céu, deuses no céu, as piramides era um local para tentarem chegar mais próximos da divindade.”

Outros exemplos que confirmam o desenvolvimento local são o famoso calendário asteca, um calendário solar, que vai de 52 e 52 anos, e diversos desenhos e cerâmicas que representavam o cotidiano, além de avançada engenharia. Os próprios astecas tiveram que habitar em regiões que alagavam, formando lagos. Para isso, faziam tablados onde plantavam, além de construírem avenidas nessas condições.

Maria Aparecida comenta como o espanhol Cortez ficou admirado com a limpeza da região quando chegou na região. Banheiros públicos, além da cultura olmeca com esculturas que variavam de 1,5metros até 3metros e pesavam toneladas. Curiosamente, eles continham traços negroides, com grandes cabeças e eram transportadas de um lugar para outro, o que chama até hoje a atenção dos pesquisadores.

Dois autores do período que se destacaram
Mesmo com ricas culturas como essas citadas, os espanhóis chegaram na América impondo a própria cultura e desvalorizando todo o resto que encontravam. Maria Aparecida chama então, atenção para dois escritores deste momento que narraram um pouco de como decorreram os acontecimentos naquele período. Um deles foi Sahagún, um franciscano que via os povos encontrados de uma maneira diferenciada. Aqui a professora chama atenção para uma diferença entre a colonização espanhola e a portuguesa. Se no Brasil, os jesuítas dominavam, ali eram os franciscanos e os dominicanos os mais influentes. Eram cronistas, pessoas simples, mas escreviam muitas obras, tanto fora como dentro da igreja, de grande importância para a historiografia.

Sahagún se destacou por considerar necessário neste contexto, conhecer a língua desses povos para poder convencê-los da verdade dos europeus, que ele como os demais acreditava ser a melhor e portanto melhor para eles. Neste ponto se diferencia por ver a relação entre essas culturas e o choque entre o renascentismo europeu que se considerava a perfeição e aquilo que julgavam primitivo que encontravam ali.

Quando Sahagún veio para América achava que para ensinarem sua cultura, precisavam conhecer a língua desses povos que viviam aqui, demonstrando um início de uma formação humanista. E logo se apaixonou pelo que encontrara. Foi ele o responsável pela fundação de colégios e foi muito criticado por isso inclusive. Os índios estudavam lá e aprendiam o latim e eram eles os tradutores e intermediários nas conturbadas relações. O interessante de Sahagún era o fato dele querer ouvir a voz desses povos. Ele tinha a pretensão de ouvir o outro, e procurava respeitá-la. Embora não concordasse com os diferentes costumes como, por exemplo, os sacrifícios, casamentos diferentes, e estranhassem o fato do indígena oferecer sua filha virgem a uma visita, já que para ele deveria dar o seu melhor aos que chegavam.

Muitos morreram por guerras e epidemias, mas a maior crueldade que os colonizadores exigiam dos índios era um trabalho muito mais puxado do que estavam acostumados a dar. De acordo com Maria Aparecida, a escravidão que chegou era diferente. Os espanhóis se utilizavam do que já existia na região como as chamadasencomiendas e a também conhecida mita, um serviço obrigatório e com base nessas instituições já existentes, para justificarem uma outra escravidão, já que a normal era proibida.

Ela ressalta como funcionava o esquema. Encomendores ficam com grupo de índios sob “proteção”, na qual devem prestar os serviços, deslocam as pessoas de seu local, ficando 18 horas nas minas. “Essa desestruturação para mim é o mais terrivel, pois entra no âmago das vidas deles, eles perdem identidade e auto-estima, embora tivessem as guerras entre eles”, comenta a professora.

Bartolomeu de Las Casas, foi o outro autor destacado pela professora. Considerado um defensor dos índios ele mesmo se determinou um seminarista. Seu pai era amigo do Colombo e ganhou uma encomienda, porção de terra. Porém ele tenta acabar com esse sistema, sem sucesso.

Assim, Sahagún conhecia a língua e buscava mostrar como os índios eram de fato, enquanto Las Casas conhecia os costumes e idealizava esses povos. Porém, ambos escreviam sobre a crueldade que acontecia ali. Por exemplo, quando os dominadores obrigavam os índios a mergulharem fundo no mar para pegarem pérolas e com isso acabavam morrendo. Sem contar as epidemias avassaladoras e as guerras por terra.

 

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br