São Paulo (AUN - USP) - O quanto é difícil aprender a digitar no word? É possível traçar um paralelo de dificuldade similar com um programa para criar jogos, idealizado por três amigos, o Unity. O software foi um dos temas abordados no dia 26 de novembro, no Seminário de Economia do Audiovisual, Game Engine Design For Change, no Departamento de Rádio e TV da Escola de Comunicações e Artes da USP.
O evento contou com uma oficina de treinamento em Unity, programa que busca democratizar a criação de games. Quem compartilhou os dados do sistema foi um de seus fundadores, Jay Santos. “Qualquer um pode fazer um game usando o Unity. Não importa se você é arquiteto, programador, ou alguém que nunca mexeu com games. O programa foi criado pensando nessas pessoas, feito para ser simples e acessível.”
O seminário destacou a presença dos games no mundo audiovisual e seu potencial de desenvolvimento no país, chamando atenção para novas abordagens dos games. O professor Gilson Schwartz, do Departamento de Audiovisual da ECA, explicou do que se trata o projeto Games for change. Segundo o discente, este seria um espaço para trocas de experiências sobre games que querem trazer algo a mais para a sociedade. Ultrapassar os limites da violência e puro entretenimento. A ideia é trazer diversão com educação e cultura.
Era justamente isso que Adalgisa Preston procurava em uma empresa da área. Formada na Faculdade Westwood de Atlanta, foi desacreditada por uma professora ao dizer que queria trazer novas percepções para o games, que alegou que ela ficaria sem emprego se persistisse nesse pensamento. Foi aí que ela descobriu o Games for change e tudo se encaixou. Ela foi uma das responsáveis por ter a ideia de um jogo que envolvesse a cultura nordestina e o debate de gênero.
Inicialmente pensou em trazer o nome de Lampião. Posteriormente, nasceu a vontade de pautar o debate feminista para a história e optou por focar na personagem de Maria Bonita. “Não tinha jogo com cultura brasileira, latino-americana, trazendo os índios, orixas, incas. Então, agora teremos a Maria Bonita, com a temática da mulher no cangaço, que até hoje tem sido pouco comentada”. Seria uma forma de tratar da luta contra violência da mulher virtualmente, auxiliando, por conseqüência, fora dos jogos também.
Assim, o foco do simpósio foi o desenvolvimento do projeto “Maria Bonita e Lampião Digital” o que não impediu de tratarem de outros assuntos importantes sobre games que querem fazer a diferença. O norte americano especialista em mídias digitais Joshua Foutus também deu sua contribuição. Ele trouxe aspectos como a desatenção com o contar da história da arte no Brasil. O quanto isso não está sendo passada da maneira mais adequada aos povos indígenas e comunidades da periferia. Como pesquisador ele realizou diversas viagens pelo Brasil, desenvolvendo projetos de tecnologia em beneficio da arte e na valorização do ser humano.
Perspectivas para os games brasileiros
Existem diversos projetos e games feitos por brasileiros que a própria população desconhece. Como mudar a percepção do brasileiro em relação aos games e mostrar que é possível ganhar dinheiro nesta área? Jay Santos acredita que isso está evoluindo, mas o brasileiro ainda não sabe como ganhar dinheiro com isso. De qualquer forma, os presentes no evento reconheceram a facilidade desse país como um todo para lidar com novas tecnologias. Um exemplo disso é o fato de ser o segundo maior utilizador do twitter.
Jay Santos ressaltou que não há formula pra lucrar com jogos. Mas é necessário no mínimo, concluir projetos, ir até o fim antes de desistir e começar outro. Uma dica são os jogos sociais que dão mais chance de sucesso. “Não se joga sozinho. Quanto mais gente participando online, mais pacotes serão vendidos.” Outra sugestão é não cobrar pelo seu jogo e tentar lucrar com compras, já que ao tarifar o download do jogo, acaba diminuindo o número de bases instaladas.
Assim, o potencial para o crescimento dos games no Brasil é grande, mas é preciso desenvolvê-lo. E para isso é necessário que se amplie a recepção quanto a este universo, a começar pelas escolas e faculdades do país. O professor Gilson Shwartz destacou que no próprio Departamento de Audiovisual da ECA só se fala em cinema, rádio e TV. Não se pensa em games e tecnologia audiovisual de maneira ampliada.