ISSN 2359-5191

16/12/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 133 - Economia e Política - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
A representação do Capital em tempos de crise

São Paulo (AUN - USP) - Uma das grandes questões da historiografia é a representação de um fato e suas diversas narrativas na construção do discurso histórico. Esse problema foi tratado no ciclo de palestras Fato e Narrativa, realizado no decorrer do segundo semestre de 2012 no Departamento de História da FFLCH. Para encerrar este ciclo, o tema escolhido foiFato e narrativa em tempos de crise apresentado pelo professor Jorge Grespan.

Grespan se propôs a analisar a representação da atual crise econômica mundial, um tema que o professor estuda desde de 2009 e com o qual pretende realizar um pós-doutorado. O historiador identifica duas representações majoritárias para a crise. Uma encara a crise como um fenômeno financeiro que poderia ser evitado, enquanto outra que a trata como um fenômeno moral decorrente da ganância e do jogo financeiro.

A crise é entendida como consequência moral pela condenação das regras do jogo financeiro até 2008, sendo que algumas ainda existem. Grespan cita como exemplo as premiações para os executivos das agências financeiras. Motivados pelos prêmios em dinheiro, os executivos realizavam negócios arriscados para obtenção de um lucro rápido, sem tomar as devidas preucações para evitar uma bolha especulativa. Para o historiador, se trata do fetiche do dinheiro engendrar dinheiro sem “se mecher”, ou seja, sem o investimento do capital no sistema produtivo, mas, sim ,contando com o lucro proveniente dos juros.

Grespan nesse ponto questiona a lógica por trás do imperativo do crescimento. “Achamos tão normal esse fetiche do dinheiro que consideramos normal a hipótese de que um país deve crescer sua economia continuamente”, disse o professor, que foi além: “ Por que a economia fica além da política? Por que rimos quando se fala em revogar a lei da oferta e demanda, considerando isso tão absurdo quanto tentar revogar a lei da gravidade? Como a economia cria essa legalidade, como se fosse uma lei da natureza tão forte quanto a da gravidade?” O historiador identifica na crise uma quebra de identidade do próprio capital, que, quanto não gera lucro, deixa de ser ele próprio capital. Ainda assim, Grespan não vê como a moralização do sistema financeiro como saída pois este próprio funcionamento desse sistema é responsável por irracionalizar seus agentes.

Entretanto, mesmo a representação da crise como um fenômeno meramente financeiro é problemática. Por mais que a história não seja circular, é válido olhar para trás e perceber os elementos da crise de 1929. Para o professor, faltam elementos pré-crise para que ela acontecesse, assim como os elementos que marcaram a ressureição do mercado ainda não surgiram, e dificilmente irão. Grespan afirma que não se pode deduzir escatologias para a crise pelo próprio caráter do capital de criar e terminar em si mesmo.

“As receitas neo-liberais falharam, mas retomar as medidas keynesianas (ou seja, a doutrina econômica de John Keynes, que defende a presença do Estado na economia) é impossível por se necessitar de um alto endividamento do Estado. A verdade é que a crise impõe o caos nos padrões de mesuração ecônomica”, brincou o professor.

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