São Paulo (AUN - USP) - Foi realizada no último dia 30 de novembro, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH), a palestra “A crise do mundo índio.” Promovido pelo Centro de Estudos da Literatura e da Cultura Latino Americana “Ángel Rama”, o evento contou com a presença de Marina e Noel Villas-Boas, respectivamente mulher e filho de Orlando Villas-Boas, sertanista brasileiro conhecido pelo seu trabalho com as tribos indígenas na região do Xingu, junto com seus irmãos Cláudio e Leonardo.
O encontro foi mediado pelo professor Eduardo de Almeida Navarro, da FFLCH, e tratou da situação atual desses povos indígenas, levando em conta as recentes discussões sobre a construção da usina de Belo Monte, no rio Xingu. Além disso, Noel comentou também sobre o filme “Xingu”, lançado em 2012 e dirigido por Cao Hamburger, que conta a trajetória dos irmãos Villas-Boas.
Ele afirmou que a iniciativa de fazer o filme partiu dele, que foi atrás de diretores que tivessem a intenção de gravar a história. “Vários documentários já foram feitos sobre o assunto, mas todos com um alcance pequeno, limitado. A ideia do filme era contar essa trajetória para mais pessoas”, disse Noel, que completa: “No Brasil a história é esquecida muito facilmente, queria ressaltar a imagem do meu pai para que não caísse no esquecimento”.
A situação dos indígenas foi um tema comentado por Marina, que reafirmou as tristes condições de vida a que são submetidos e a falta de integração com a população em geral: “Só porque os índios tem televisão e carro não quer dizer que estejam integrados à sociedade”. Ela ainda afirmou que o problema dos índios não é recente e vai muito além da construção da usina. “Os índios estão em crise desde a descoberta, pois, a partir daquele momento, sofreram com guerras, escravização, perda de terras, isso não é atual.”
Marina ainda destacou a grande experiência de vida que a sua vivência com as comunidades indígenas possibilitou, por acompanhar o marido. “Os índios vivem numa sociedade tranquila e organizada e conseguem viver bem e felizes com pouco. Para mim, todo meu trabalho com as comunidades valeu a pena”. Sobre as tentativas de integração do índio na sociedade, Noel defendeu a manutenção dos seus costumes: “Integrar o índio seria permitir que ele continuasse com sua cultura e seus costumes, não tentar mudar os seus hábitos. Atualmente, o modelo usado não extermina os índios fisicamente, mas ideologicamente”.