São Paulo (AUN - USP) - Inaugurando uma série de debates pelo seminário “O que é isto, a Filosofia [na escola]?”, os professores José Sérgio Fonseca de Carvalho (Faculdade de Educação da USP) e Patrícia Velasco (Universidade Federal do ABC) fizeram a primeira mesa do evento, que se iniciou no dia 3 de dezembro na Faculdade de Educação (FE).
Velasco inaugurou sua fala contando uma curiosidade: na década de 1990, quando ainda cursava o ensino básico, fora aluna de filosofia do professor Carvalho. O encontro, disse Velasco, é hoje visto por ela como fator essencial que contribui para que ela seguisse carreira acadêmica no ramo. Com uma apresentação chamada “Filosofia na escola: para pensar o tempo presente”, a professora discutiu durante parte de seu colóquio a atual situação em que se encontram aqueles que lecionam filosofia em escolas e colégios. “A tradição universitária brasileira compreende os problemas do ensino de filosofia como educacionais, distantes dos chamados problemas filosóficos”, afirmou Velasco. “Quando se trata de ensinar filosofia, consideram-se filosóficos apenas os conteúdos. As reflexões, as metodologias e as didáticas são avaliadas como questões de ordem exclusivamente pedagógica.”
É por conta desse tratamento, afirmou ainda, que tem se estabelecido na área uma dicotomia entre o fazer e o ensinar e aprender filosofia, gerando uma drástica separação entre aqueles que cursam bacharelados e os que se graduam em licenciaturas. Os primeiros, especializados em pesquisa, são vistos com muito mais apreço do que os segundos, cuja destino é lecionar.
Velasco deu destaque ainda à importância de um olhar da filosofia para ela própria, exaltando um estudo filosófico a respeito do próprio ato de ensinar o tema. “Cabe ao docente redescobrir o ato filosófico no mesmo espaço de aula que seus alunos descobrem a experiência do pensamento”, indicou a professora.
Compartilhando de um pensamento similar, Carvalho deu ênfase a certa mentalidade distorcida muito disseminada hoje. Segundo o professor, existe hoje um método, paradoxal, que envolve medir a qualidade do ensino com base em algo que pertence à vida pessoal daqueles que são ensinados. “A nossa certeza de que a educação publica não tem qualidade diz respeito ao fato de que ela não tem sido capaz de fazer com que a maioria de seus alunos ingressem na Escola Politécnica e saiam ganhando R$50 mil, e portanto “vençam” na vida”, criticou o educador.
Um dos maiores problemas apontados por Carvalho foi o fato de o ensino de filosofia no ensino básico ter uma finalidade, ser algo de que se tira um sentido. Esse tipo de pensamento é o mesmo que vê os objetos como um meio para outro fim. Produz-se, por exemplo, uma cadeira na qual sentar. A filosofia, no entanto, não segue essa lógica. Se para Velasco ela é o caminho, e não o destino, para Carvalho: “o lugar da filosofia é o de criar um repertorio de experiências”. Diz ainda: “O produto final não é a criação de um produto, mas de um sentido de experiência escolar”.