São Paulo (AUN - USP) - Em meados de novembro, a Faculdade de Educação (FE) da USP recebeu a professora da Universidade de Barcelona, Angela Lorena Fuster Peiró para a conferência internacional Hannah Arendt: responder ante los otros, a qual foi parte da II Jornada de Filosofia da Educação da FEUSP: Rousseau 300 anos.
Angela começou discorrendo sobre o fato dos biógrafos e biógrafas de Hannah Arendt, apesar de muito bons, não dedicarem muita atenção à experiência da autora como docente. No entanto sabe-se que ela não quis se dedicar à docência em tempo integral porque preferia preservar sua autonomia para pensar e escrever. Arendt, que lecionou em departamentos de ciências sociais e políticas, visava ensinar a seus alunos a prática de pensar por si mesmos, mostrando a necessidade de refletir sobre o presente com audácia, criticando a ruína da metafísica ocidental.
A partir de relatos de ex-alunos da Universidade de Berkeley, constatou-se que Arendt era uma professora original, carismática e que possuía uma melancólica seriedade. “A relação pedagógica mantida por Arendt era uma relação assimétrica e não-vassala [não submissa]”, comenta Angela. Arendt sempre destacou enquanto lecionava a reponsabilidade individual e coletiva, pois tanto a educação quanto a responsabilidade são experiências de relação com os outros e com o mundo. “Quando falamos de responsabilidade cabe destacar o fato de esse compromisso com nós mesmos depender de um diálogo que define a estrutura do pensamento e da nossa consciência”, afirma. Esse diálogo é essencial para podermos conviver com os outros,uma vez que o em palavras de Arendt, “só aquele que sabe viver consigo mesmo saber viver com os outros”. Dessa forma, a manutenção do espaço público se faz necessária no instante em que, em termos políticos, somos seres plurais que habitam a terra e, por isso, compartilhamos de um mundo comum.
A conferencista também abordou o tema do nazismo, no que diz respeito à experiêcia humana vivida na época. “Podemos não ser responsáveis morais, mas somos responsáveis políticos”, explica Angela. Para a professora, a ação política é algo que compartilhamos em busca de preservar o mundo em comum e, por isso, não há como nos isentarmos da culpa do holocausto, mesmo que esta seja individual. Ao comentar sobre o livro Eichmann em Jerusalém, em que Hannah Arendt apresenta o conceito de banalidade do mal, Angela afirma que, pela análise da autora, Eichmann consiste apenas em um agente banal do mal radical. “O interesse não está no indivíduo ser bom, mas, sim, se o que ele faz é bom para o mundo comum”, explica a professora.
Em vista disso, Angela atenta para o fato da compaixão não ajudar na compreensão. É preciso imaginação para nos colocarmos no lugar dos outros, de modo que precisamos refletir sobre o valor que o pensamento tem em si mesmo para aprendermos a julgar a superficialidade do que dizemos e assumir a responsabilidade pelo que fazemos. “A ação é algo irreversível, precisamos ficar atentos a que sentido têm as coisas que estamos fazendo.”