ISSN 2359-5191

16/04/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 5 - Arte e Cultura - Escola de Comunicações e Artes
Pesquisa mostra a evolução da linguagem nas revistas brasileiras

Antes mesmo que algumas práticas mais explícitas de padronização do texto jornalístico chegassem ao Brasil, importadas da imprensa americana na década de 1950, como surgimento dos manuais de redação ou o uso lead, havia já por aqui uma série de padrões na confecção de reportagens que não estavam escritos, mas estabelecidos pela prática. São esses padrões que estuda Eliza Bachega Casadei em sua tese de doutorado, defendida em março na Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA).

Partindo de revistas surgidas em diferentes momentos históricos (Revista da Semana, O Cruzeiro, Fatos e Fotos, Realidade, Manchete, Veja, Época e IstoÉ), a pesquisadora selecionou os exemplos pensando na relevância de cada título. A Revista da Semana, por exemplo, esteve em circulação no país de 1900 a 1958 e permitiu a análise de várias fases do jornalismo em revista. A Veja, por sua vez criada na década de 1960, instituiu um novo padrão, que é usado até hoje.

 

O repórter dentro da reportagem

Um aspecto interessante dessa evolução é o lugar do repórter na notícia. No modelo adotado pela Revista da Semana, a forma como o repórter buscava as informações e trabalhava para conseguir a notícia era mais valorizada que o próprio fato noticiado. “Todo tempo eles usavam esse recurso de contar o trabalho do repórter para marcar que aquilo era uma reportagem e deveria ser lida como tal”, explica Eliza, uma vez que o gênero jornalístico dividia espaço com poemas, contos e crônicas.

Quando surge, em 1928, a revista O Cruzeiro segue o mesmo padrão, até que na década de 1940 o repórter deixa de narrar como construiu a notícia e passa a narrar sua vivência da experiência relatada. Essa mudança foi mantida na revista Realidade e só veio a ser substituída em 1968, com o surgimento da Veja e o modelo interpretativo.


Multiplicação das Fontes

A revista Veja representa uma ruptura na função da revista semanal. Antes dela, o objetivo era contar ao leitor o que havia acontecido, oferecendo os detalhes e explicações necessárias. A Veja, inspirada na revista americana Time, tenta interpretar o fato e não noticiá-lo, partindo assim do pressuposto de que seu leitor já sabe o que aconteceu.

Isso muda completamente a forma de se pensar a notícia. É nesse momento que surge o jornalismo baseado nos números e especialistas, em que há uma necessidade de se legitimar, por meio de um dado ou voz externa, a ideia expressa. A pesquisadora lembra que isso, embora nos pareça cotidiano, só passa a existir na década de 1960.

 

Aparecimento de novos e velhos padrões

A pesquisa se limita ao século 20, mas Eliza já vê mudanças no que ficara estabelecido. Segundo ela, o modelo interpretativo surgido com a Veja e mantido intacto desde então está se esgotando. Novos modelos surgiram recentemente, como é o caso da revista Piauí, lançada em 2006, que trabalha com longas reportagens de um jornalismo mais literário.

Além disso, Eliza observa que já há influência das mídias sociais na forma de se fazer jornalismo em revista. A pesquisadora crê que os debates nas mídias acabam criando a necessidade de uma nova testemunha nas reportagens. “Minha impressão é que para qualquer assunto que se comenta é preciso comentar também o que foi comentado sobre ele nas redes sociais”, opina.

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br