ISSN 2359-5191

21/10/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 15 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Pesquisas Tecnológicas
Pesquisadores falam sobre a revolução da nanotecnologia

São Paulo (AUN - USP) - Uma revolução invisível: isso é o que está fazendo a nanotecnologia. Para a corrente dos químicos, a melhor forma de explicar esta tecnologia a um leigo é através de uma definição bem simples: é a arte de manipular átomo por átomo.

Quem pensa que esta é uma técnica extremamente recente pode estar enganado. Segundo Mário Gongora, pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas da Universidade de São Paulo (IPT-USP), os seres-humanos já fazem uso da nanotecnologia desde a Idade Média. Para construir os vitrais nas igrejas, as sociedades medievais tinham consciência que partículas em tamanhos diferentes vindas de um mesmo material poderiam tomar colorações distintas. Para o professor Henrique Toma, do Instituto de Química da USP, o que mudou é que “agora o mundo sabe usar cientificamente a nanotecnologia”.

A Europa e alguns países da Ásia estão investindo pesado nessa tecnologia. A China, que começou a investir há pouco tempo, já detém quase metade das patentes ligadas à nanotecnologia.

No Brasil, temos atualmente quatro pólos nanotecnológicos: dois em Pernambuco, um em São Paulo e outro no Rio Grande do Sul. Na capital paulista, o IPT inaugurou em setembro o seu laboratório de microfluídica, como uma das suas ações para se inserir na área da nanotecnologia.

Para Gongora, uma das funções do novo local de pesquisa é conhecer os fenômenos dos fluídos em micro-escala e a fabricação de dispositivos que se aproveitem destes fenômenos. Uma das pesquisas deste grupo, em colaboração com o laboratório de tecnologia de partículas do IPT, é o uso de dispositivos microfluídicos para a obtenção de partículas microencapsuladas, as quais têm diferentes aplicações nas áreas química , cosmética e farmacêutica. “Temos que tentar formar partículas monodispersas, que são partículas com o mesmo diâmetro”. Segundo Gongora, isto facilita a manipulação e a obtenção de novos materiais.

Sem financiamento adequado, a vida dos pesquisadores no Brasil fica muito complicada, porque todo o processo nanotecnológico é feito através de instrumentos avançados, como microscópios atômicos, micro-pinças e pinças virtuais – como a luz e o laser. Através de uma extremidade pontiaguda minúscula, consegue-se mexer nos átomos, provocando interações. Com isso, os cientistas podem manipulá-los, de modo a formar micro-estruturas que, quando ligadas umas às outras, vão gradativamente formando estruturas maiores.

Essas microestruturas já estão em nosso dia a dia, como mostram os pesquisadores. Por exemplo, as garrafas plásticas de leite têm em seu revestimento nanoestruturas, que bloqueiam o contato do líquido com o ar, aumentando sua durabilidade. Já existem materiais resistentes à pichação, superfícies hidrofóbicas – que não retêm a água, pneus mais resistentes. O mundo dos cosméticos já passou por uma verdadeira revolução, segundo Toma: “Todos esses cremes anti-rugas, os protetores solares e os materiais de maquiagem são nanotecnologia pura”.

Em um futuro próximo, Toma acredita que as pessoas poderão desfrutar de roupas inteligentes, que se ajustam de acordo com a umidade e o calor. Na guerra, as roupas inteligentes poderão ajudar a estancar ferimentos. As vestimentas usadas por astronautas já têm aplicação de nanotecnologia: são nanotubos levíssimos, mas com a resistência do aço, que conseguiram tornar as roupas muito mais leves. Nos carros atuais, já existem de 30 a 50 componentes fabricados através da nanotecnologia.

Outra mudança radical está acontecendo e deve se intensificar na área da informática. Para o pesquisador do Instituto de Química, em pouco tempo poderemos armazenar todas as bibliotecas do mundo em uma área do tamanho de um cartão de crédito ou todas as enciclopédias em uma cabeça de alfinete. No Instituto de Pesquisas Tecnológicas são trabalhados mais especificamente três setores: a metalurgia, a biotecnologia e a química. Já no IQ são pesquisadas e desenvolvidas técnicas nanotecnológicas nas áreas de energia, análises químicas e computação molecular. Mas os dois institutos trabalham em conjunto, juntamente com a Escola Politécnica e outras faculdades da USP.

Para Henrique Toma, a nanotecnologia é uma revolução imperceptível porque, à medida que as coisas evoluem, menos as pessoas podem compreender o que está acontecendo. “A sociedade passa a ser um mero usuário, e como ela não entende o que se passa, fica preocupada quando pensa que seu bem-estar está sendo ameaçado. O medo cria a repulsa e resulta nos movimentos contra a evolução tecnológica.”

Toma acredita que a ciência não vai contra a natureza, ela está cada vez mais parecida com o mundo natural. “Vamos ter computadores que se parecem com um cérebro”, afirma. Segundo ele, o mundo inanimado está caminhando em direção ao animado. “A nanotecnologia pode chegar a um ponto onde as moléculas vão pensar sozinhas. Aí sim teremos que parar para pensar. Estaremos tête-à-tête com Deus”. Para Toma, a nanotecnologia é o último estágio da tecnologia, porque “não existe nada menor que a molécula”.

Mais informações:
http://www.nanotechnology.com
http://www.nanotech.org
Ministério da Ciência e Tecnologia: http://www.mct.gov.br
DVD (em inglês) gratuito, que pode ser solicitado através do site: http://cordis.lu/nanotechnology

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br