Carlos De Ocesano, pesquisador do Instituto de Química da USP, explora as propriedades do Abalon, RNA não codificador de proteínas que promove a redução de tumores em camundongos. O trabalho, realizado como projeto de doutorado, abre espaço para novas linhas de pesquisa e estudos inovadores no campo da bioquímica.
O projeto surgiu como uma exploração no campo da biologia molecular básica. “A intenção inicial era explorar essa área e envolver o foco no câncer”, diz o pesquisador. A partir de um estudo e caracterização funcional de diversos RNAs e, após uma longa análise que durou cerca de dois anos, De Ocesano conseguiu identificar certas especificidades presentes no RNA Abalon, as quais permitiram o direcionamento da pesquisa na busca e caracterização de possíveis efeitos.
O Abalon é um longo RNA que não codifica proteínas. Seu destaque se deu a partir de uma análise e comparação que gerou um padrão expressão, o qual se relaciona com a presença de tumores em determinados órgãos. A presença desse RNA em tecidos tumorais se mostra bastante inferior quando comparada a tecidos comuns, e assim, a pesquisa atuou no sentido de aplicar uma quantidade maior desse material nesses tecidos específicos, visualizando sua atuação e seus efeitos. Como resultado pôde se observar a morte dessas células e a diminuição consequente do tumor.
A introdução desse RNA em células tumorais pôde, assim, caracterizá-lo como um indutor da apoptose, processo de auto-destruição celular. Sua presença, portanto, determina uma morte programada de certas células. Desta forma se estabelece uma propriedade característica desse RNA que pode vir a ter sua aplicação em terapias gênicas e tratamento de certos tumores.
Quando aplicada em tumores de camundongos, a solução contendo o Abalon se mostra extremamente efetiva na diminuição dessas células. O estudo comparou a evolução clínica de dois grupos de camundongos que tiveram tumores induzidos, um no qual era injetado o RNA e outro que ficou sem nenhum tratamento. Ao final do experimento era visível a diminuição drástica do tumor no primeiro grupo e o forte crescimento no segundo.
As amostras dos tumores foram enviadas para análise e os resultados positivos da pesquisa já configuram novas perspectivas para o projeto. Segundo o pesquisador, ela abre um campo novo, uma nova linha de pesquisa para um grupo inteiro. “A continuidade dos estudos se dará de forma mais prática, com animais de maior porte e buscando assim maior aplicabilidade das recentes descobertas.”, comenta o autor da tese.
De Ocesano ressalta a extrema exigência e meticulosidade aplicada a pesquisa, antes de iniciar o processo de testes em animais participou de um curso para aprender a manipular os camundongos utilizados na pesquisa. Desta forma, aprendeu e estudou o ciclo de vida desses animais, bioética e todos os mecanismos necessários para o acompanhamento diário. “Os camundongos tinham atividade noturna e, para trabalharmos durante o dia, tivemos que ter muito cuidado para não estressá-los e causar reações que alterariam a pesquisa”, relata o pesquisador.
“Foi uma dedicação plena, acompanhávamos diariamente esses animais. Feriados, natal, ano novo, todas essas datas estávamos aqui”, relembra. Os planos futuros incluem a produção de um projeto maior e temático. A pesquisa de doutorado será publicada em revistas de divulgação científica e, após a descoberta, busca-se uma continuidade dos estudos sobre o Abalon. O autor da pesquisa, Carlos De Ocesano, mostra-se bastante otimista com as recentes descobertas e as possibilidades oriundas delas, tendo em vista uma perspectiva de maior aprofundamento e aprimoramento.