ISSN 2359-5191

24/04/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 9 - Saúde - Instituto de Química
Pesquisa em bioquímica explora RNA que promove redução de tumores

Carlos De Ocesano, pesquisador do Instituto de Química da USP, explora as propriedades do Abalon, RNA não codificador de proteínas que promove a redução de tumores em camundongos. O trabalho, realizado como projeto de doutorado, abre espaço para novas linhas de pesquisa e estudos inovadores no campo da bioquímica.

O projeto surgiu como uma exploração no campo da biologia molecular básica. “A intenção inicial era explorar essa área e envolver o foco no câncer”, diz o pesquisador. A partir de um estudo e caracterização funcional de diversos RNAs e, após uma longa análise que durou cerca de dois anos, De Ocesano conseguiu identificar certas especificidades presentes no RNA Abalon, as quais permitiram o direcionamento da pesquisa na busca e caracterização de possíveis efeitos.

O Abalon é um longo RNA que não codifica proteínas. Seu destaque se deu a partir de uma análise e comparação que gerou um padrão expressão, o qual se relaciona com a presença de tumores em determinados órgãos. A presença desse RNA em tecidos tumorais se mostra bastante inferior quando comparada a tecidos comuns, e assim, a pesquisa atuou no sentido de aplicar uma quantidade maior desse material nesses tecidos específicos, visualizando sua atuação e seus efeitos. Como resultado pôde se observar a morte dessas células e a diminuição consequente do tumor.

A introdução desse RNA em células tumorais pôde, assim, caracterizá-lo como um indutor da apoptose, processo de auto-destruição celular. Sua presença, portanto, determina uma morte programada de certas células. Desta forma se estabelece uma propriedade característica desse RNA que pode vir a ter sua aplicação em terapias gênicas e tratamento de certos tumores.

Quando aplicada em tumores de camundongos, a solução contendo o Abalon se mostra extremamente efetiva na diminuição dessas células. O estudo comparou a evolução clínica de dois grupos de camundongos que tiveram tumores induzidos, um no qual era injetado o RNA e outro que ficou sem nenhum tratamento. Ao final do experimento era visível a diminuição drástica do tumor no primeiro grupo e o forte crescimento no segundo.

As amostras dos tumores foram enviadas para análise e os resultados positivos da pesquisa já configuram novas perspectivas para o projeto. Segundo o pesquisador, ela abre um campo novo, uma nova linha de pesquisa para um grupo inteiro. “A continuidade dos estudos se dará de forma mais prática, com animais de maior porte e buscando assim maior aplicabilidade das recentes descobertas.”, comenta o autor da tese.

De Ocesano ressalta a extrema exigência e meticulosidade aplicada a pesquisa, antes de iniciar o processo de testes em animais participou de um curso para aprender a manipular os camundongos utilizados na pesquisa. Desta forma, aprendeu e estudou o ciclo de vida desses animais, bioética e todos os mecanismos necessários para o acompanhamento diário. “Os camundongos tinham atividade noturna e, para trabalharmos durante o dia, tivemos que ter muito cuidado para não estressá-los e causar reações que alterariam a pesquisa”, relata o pesquisador.

“Foi uma dedicação plena, acompanhávamos diariamente esses animais. Feriados, natal, ano novo, todas essas datas estávamos aqui”, relembra. Os planos futuros incluem a produção de um projeto maior e temático. A pesquisa de doutorado será publicada em revistas de divulgação científica e, após a descoberta, busca-se uma continuidade dos estudos sobre o Abalon. O autor da pesquisa, Carlos De Ocesano, mostra-se bastante otimista com as recentes descobertas e as possibilidades oriundas delas, tendo em vista uma perspectiva de maior aprofundamento e aprimoramento.

 

 

 

 

 

 

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