São Paulo (AUN - USP) - Não bastasse a escassez de chuvas deste ano, o reservatório Guarapiranga ainda enfrenta o problema da poluição. Ele apresenta cerca de 1.200 áreas identificadas como contaminadas. Tal identificação foi feita em tese do Instituto de Geociências da USP, concluída no final de 1999. Na pesquisa, Elton Gloeden propôs medidas corretivas e preventivas, a fim de recuperar áreas poluídas e evitar o agravamento ou o surgimento de novas delas. Desde então, foram adotados alguns desses procedimentos.
O pesquisador Elton Gloeden escolheu essa represa como objeto de estudo pela sua importância no abastecimento de água da região metropolitana. A poluição detectada é decorrente do despejo de resíduos, especialmente da indústria química e do comércio de combustíveis localizados nas regiões mais urbanas da bacia. Elton Gloeden constatou formas inadequadas de manejo das substâncias e de construção destes empreendimentos, que acarretam sérios riscos à saúde da população. "A contaminação pode atingir as águas subterrâneas e os corpos dos rios e dos córregos, com os quais a população entra em contato, seja diretamente, seja através do ar e do uso do solo", afirma ele.
Para recuperar as áreas, Gloeden sugere "a impermeabilização do solo, a drenagem da água e do chorume, além de melhorias na forma de disposição de detritos e nas instalações de postos de serviços, para evitar vazamentos de poluentes". Ele informa que, após o encerramento de sua tese, foram tomadas iniciativas privadas em determinados postos de distribuição de combustíveis (para que não houvesse mais vazão desses produtos na represa), e também colocados em prática alguns projetos estaduais. O órgão responsável por estes é a Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental (Cetesb), onde o pesquisador trabalha atualmente, inclusive aplicando essa metodologia em outros reservatórios da capital. A Cetesb é ligada à Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Segundo Elton Gloeden, "o método se revelou simples e rápido, o que viabiliza sua aplicação". Ele levou cerca de dois anos para coletar os dados junto a Cetesb e realizar a pesquisa de campo.
O pesquisador também pretende, com sua tese, incentivar a elaboração de uma legislação mais específica sobre o assunto. Ele critica a lei ambiental estadual vigente atualmente, que "apenas proíbe a contaminação e estipula a recuperação, mas não detalha como fazer isso". Ele aponta que, no momento, há projetos de lei sendo estudados na Cetesb para serem encaminhados à Câmara de Deputados.
Os maiores reservatórios de água da Grande São Paulo estão operando com uma porcentagem bastante baixa de sua capacidade. Dentre eles, está o Guarapiranga, com nível de preenchimento de apenas 52,1% em 2001. Diante desse cenário, o racionamento de água pode sacrificar os paulistanos, conforme já anunciado pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), e a normalidade do fornecimento de energia elétrica também pode ser prejudicada.