O grupo de pesquisa Dieta, nutrição e câncer, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (FCF), tem como interesse avaliar a atividade quimiopreventiva contra o câncer de compostos presentes nos alimentos. Hoje, o grupo pesquisa sobre os mecanismos que controlam a expressão dos genes (epigenéticos) e sua relação com a gênese do câncer. E também avalia a substância tributirina, obtida a partir do leite, laticínios e mel, como agente de combate ao câncer.
A tributirina possui três ácidos butíricos em sua composição. O professor Fernando Salvador Moreno, líder do grupo de pesquisa, explica que o interesse pela substância se deve ao fato do ácido butírico ser um importante agente diferenciador de células. “No câncer, há um bloqueio da diferenciação das células. No ciclo normal, a célula tem que se diferenciar e morrer. No caso do câncer, as células não se diferenciam, proliferam mais e morrem menos”. Deste modo, há um acúmulo de células jovens.
O ácido butírico tem um tempo de meia-vida curto, deste modo fica ativo por pouco tempo no organismo. Ao usar a tributirina, a ideia é que ela possa ficar por mais tempo no organismo, por ter um tempo de meia-vida maior. E, por conseguinte, atuar por mais tempo como um agente diferenciador de células. “Estamos estudando a tributirina e a achamos promissora”, afirma Moreno.
Hoje, os pesquisadores também estão interessados em estudar os mecanismos epigenéticos relacionados com o desenvolvimento e a quimioprevenção do câncer. Compostos que são alvos da pesquisa, como o ácido fólico (vitamina B9), estão envolvidos nestes processos. Deste modo, estudar substâncias que estejam envolvidas nos processos de controle da expressão dos genes é uma das preocupações dos pesquisadores.
Importância da alimentação
Os alimentos têm um papel de influência muito grande no processo de desenvolvimento do câncer (carcinogênese) e também na sua prevenção. “Um estudo do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos observou diversos alimentos e concluiu que, dos agentes quimiopreventivos que se conhece, a maioria está nos alimentos”. Além disso, estudos da década de 80 comprovaram que os alimentos são responsáveis por 35% do risco de câncer. O tabaco aparece com 30%. “Os alimentos têm substâncias carcinogênicas e anticarcinogênicas. Há alimentos que atuam de forma benéfica como frutas e hortaliças”, explica o professor.
O processo de carcinogênese ocorre em múltiplas etapas. As três etapas básicas são: iniciação, promoção e progressão. Destas só a promoção é reversível. O câncer leva, em princípio, 2/3 da vida da espécie para se desenvolver. “Se um fumante descobre, aos 60 anos, que está com câncer, isso quer dizer que ele teve 40 anos para tomar outras atitudes, como parar de fumar”, exemplifica o professor.
O modelo do grupo de pesquisa usa ratos para estudar o câncer de fígado. “O rato é um bom modelo porque o desenvolvimento do câncer de fígado neles é parecido com o de seres humanos, além disso, ele permite que se distinga cada uma das três etapas básicas”, explica Moreno.