A deficiência olfativa, ou anosmia, é a falta total da detecção de cheiro. Junto dela, há outras disfunções olfativas, que reúnem desde problemas de identificação até a detecção parcial de um odor. A discussão em torno das características destas disfunções e o impacto na qualidade de vida gerado pela anosmia foram pautas da palestra “E se eu não sentisse mais cheiro?”, ministrada pela farmacêutica Carolina Rediguieri, na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (FCF).
Carolina exemplifica com um estudo que coletou as principais variações em setores da vida dos deficientes olfativos. “1/3 dos pacientes classificaram seu humor, alimentação e interações sociais de regular a pobre”, afirma. Além disso, de 17% a 35% dos pacientes sofrem de depressão. “Muitos deles se sentem vulneráveis, não sentem o ambiente a sua volta”, diz Carolina.
“Os estudos apontam que a satisfação com comida e bebida é o que as pessoas mais sentem falta”, afirma Carolina. Os deficientes olfativos não detectam 95% do gosto dos alimentos. Por consequência, mais de 70% perdem o prazer em se alimentar. Outros setores importantes são afetados como, por exemplo, os relacionados com a vida profissional e a segurança. Muitas profissões precisam do olfato, desde cozinheiros até farmacêuticos. E também aspectos básicos de segurança no dia a dia, como vazamento de gás de cozinha não podem ser detectados pelos anósmicos, diminuindo sua qualidade de vida.
Ela também destaca a questão social em torno do deficiente olfativo, que é pouco debatida. “Muitas vezes, quando alguém afirma que não sente cheiro, ouve brincadeiras de mau gosto”. Para ela, devem ser montadas estratégias que protejam as pessoas que sofrem destes problemas. Como a conscientização das famílias, que deve passar pelas questões de segurança até a alimentação, por exemplo, tornando a comida visualmente mais atrativa.
A anosmia pode estar relacionada a causas de condução ou neurossensoriais. “Nos casos de condução, um problema anatômico ou causado por doenças faz com que as partículas de odor não cheguem ao epitélio olfatório [responsável pelo reconhecimento destas]”, explica Carolina. Já nas causas neurossensoriais, as partículas chegam até o epitélio olfatório, mas o estímulo não é identificado.
Um estudo reuniu as três principais disfunções que levam a estas causas e, por conseguinte, à anosmia. São elas: trauma crânio-encefálico (19%), infecção das vias aéreas superiores (17%) e doença nasal e sinusal obstrutiva (16%). Doenças que obstruem a passagem de ar pela cavidade nasal e doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson, também podem levar à anosmia.
Carolina ressalta a importância do diagnóstico certeiro. “Deve-se diferenciar problemas de olfato e de paladar”, explica. Além disso, destaca a importância de uma divulgação mais ampla da deficiência olfativa, para maior respeito e conscientização por parte da sociedade.
Ainda não há consenso para o tratamento da anosmia. “Há muitos relatos, mas estudos controlados há poucos”, afirma Carolina. Em alguns casos, a cura é espontânea, o paciente se recupera da deficiência naturalmente. Há também casos de cura com homeopatia e administração de substâncias como corticosteroides sistêmicos e teofilina.