O Taxol é uma importante substância utilizada no tratamento de câncer, considerado uma das maiores armas na luta contra essa doença. Sua obtenção se dá através da extração de plantas do gênero Taxus, tendo uma grande concentração na casca da árvore do teixo. Entretanto, a quantidade extraída de uma árvore é mínima, significando que, para suprir a demanda pelo medicamento, seria necessário o cultivo de uma quantidade exorbitante dessas plantas, o que torna esse método inviável. A solução possível para essa questão é síntese e semi-síntese desse produto, a criação laboratorial da mesma substância. Com isso, aliaria-se a crescente demanda pelo Taxol à consciência ecológica e possibilidade de acesso.
Tendo em vista esse panorama, a professora Joëlle Prunet da Escola de Química da Universidade de Glasgow na Escócia busca avançar os estudos da síntese desse material e aprimorar os resultados das pesquisas anteriores. “Tenho uma predileção por temáticas desafiadoras”, relata a pesquisadora. Essa característica se evidencia a partir do histórico dos trabalhos sobre o Taxol que remontam grande complexidade na síntese dessa estrutura e diversos grupos que se dedicaram ao campo.
O processo de obtenção por meio de plantas se torna inviável economicamente também, pois o custo para sua produção impossibilitaria qualquer tratamento de câncer. Diversos estudos já foram realizados na síntese do Taxol, sendo atualmente efetiva a síntese total da substância. Em contrapartida, o processo atual envolve bastante tempo e diversas etapas, elevando o preço do medicamento. A pesquisa foca-se, então, na busca por uma simplificação desse processo, uma forma de torná-lo mais dinâmico e, assim, otimizar o processo produtivo. A professora destaca a dificuldade no anel número 8 da molécula cuja fabricação é mais trabalhosa por sua concentração de grupos funcionais. Outro fator apresentado é a reversibilidade das reações, muitas vezes o produto retorna a sua forma original, regredindo todo o processo. Desta forma, estudos na caracterização da substância e na construção de métodos e direções que atingissem uma eficiência maior são os principais pontos do projeto.
No novo plano de síntese desenvolvido pela equipe de Prunet há claramente menos etapas na obtenção do produto final. As pesquisas anteriores agregavam cerca de 47 passos, algumas chegando a 52. Os resultados dessa pesquisa recente apontam para 15 passos até uma etapa intermediária que, aliada a projetos anteriores realizados por outros pesquisadores, somam cerca de 30 etapas no total. Há também um significativo aumento da porcentagem de produto final obtido e os resultados contemplam novas perspectivas para esse processo trabalhoso e em desenvolvimento. O tempo ainda é uma questão presente no processo de síntese do Taxol, uma vez que cada etapa toma certo período de reação. Mesmo assim, a pesquisadora se mostra bastante otimista com as possibilidades futuras de aceleração dessa produção e o possível desenvolvimento processos de alteração da velocidade das interações químicas, conhecidos como catálises.
Por sua característica antimitótica, a substância é uma importante arma e esperança na luta contra o câncer. Essa característica se define pela capacidade de supressão da reprodução celular quando aplicada a tumores malignos, impedindo sua proliferação. O Taxol é muito utilizado na quimioterapia e muito eficiente no tratamento de cânceres de mama, ovário, pulmão e próstata. Atualmente a substância produzida a partir do processo de síntese em laboratório não é disponível comercialmente, há medicamentos que utilizam a substância, mas seu custo é elevado. A presença desse componente sintetizado em laboratório para a venda para a população o tornaria muito mais acessível e seus efeitos mais significativos.
O projeto de pesquisa iniciou-se em 1993 e completa atualmente cerca de 20 anos. Questionada sobre a determinação em manter e seguir sua investigação nesse campo específico de pesquisa, a professora ressalta os efeitos médicos do Taxol e suas interessantes características análogas. “Quando começamos éramos os precursores e isso gerou grande otimismo”, comenta Prunet. Seus planos incluem a continuidade das pesquisas em seu laboratório e o estabelecimento de relações com pesquisadores brasileiros da Universidade de São Paulo, deixando seu convite e demonstrando seu interesse em parcerias com o Brasil.