A ética e a integridade na pesquisa são temas, muitas vezes, negligenciados durante o desenvolvimento de trabalhos. A comunidade científica começou uma discussão sobre estas questões. A palestra Vigiar, punir, prevenir ou educar? Desafios e caminhos na promoção da integridade nas ciências, que integrou o V SIMPAC (Simpósio da Pós-Graduação em Análises Clínicas), traçou um panorama sobre os parâmetros éticos envolvidos nas publicações. Além disso, a palestrante, professora Marisa Russo Lecointre, demonstrou qual é a situação nacional e mundial dos debates.
O Brasil organizou, recentemente, reuniões para discutir a ética na pesquisa. As Brispes (Brazilian Meeting on Research Integrity, Science and Publication Ethics) já tiveram duas edições. Além disso, as principais agências financiadoras brasileiras desenvolveram códigos de boas condutas, que estabelecem algumas diretrizes para os pesquisadores. Globalmente, foi realizada a Conferência Mundial sobre Integridade na Pesquisa. A próxima edição será no Brasil em 2015.
Marisa acredita que é necessária a promoção de debates em uma escala maior. Para ela, a discussão ainda é bastante tímida nas instituições de pesquisa, nas universidades e mesmo nos grandes congressos temáticos. O assunto não tem seus constituintes mais básicos fixados, como a má conduta. Neste caso, o julgamento, muitas vezes, beira a subjetividade. Além disso, algumas delimitações são pouco rígidas. “O Brasil tem uma definição de plágio, mas ela ainda é muito vaga e não atende todas as necessidades, sobretudo na pesquisa científica”, exemplifica a palestrante.
Competências básicas, como a responsabilidade, podem ser guias efetivos. E as instituições precisam fazer uma autocrítica mais densa. “Deve-se ter uma revisão de valores associados aos critérios de publicação científica”, afirma Marisa.
Dilema moderno
Historicamente, o plágio sempre existiu, mas nem sempre foi considerado falta grave ou crime. “Isso é uma questão da modernidade”, afirma a professora. Com o tempo, novos valores foram surgindo. O indivíduo passa a se ver como alguém autônomo, de identidade própria. Deste modo, o plágio passa a ser criminoso, porque é como o roubo da identidade de uma pessoa.
Na década de 1980, revistas científicas de prestígio dos Estados Unidos denunciaram casos de plágio. A partir disso, a sociedade passou a exigir uma posição dos pesquisadores. O tema, que era interessante apenas para historiadores, passa a ser visto com seriedade por agências financiadoras, instituições científicas, universidades e pelo governo.
“Estamos vivenciando a cultura da fraude”, afirma Marisa. Para ela, isso traz um decréscimo na credibilidade da ciência. “Além disso, o investimento público vai para o lixo”, critica. Deste modo, a conscientização e o debate destas questões são essenciais não só aos ambientes de produção científica, como para a sociedade.