São Paulo (AUN - USP) - Um estudo da literatura lésbica do final do século XX, uma análise das figuras de linguagem das letras de Bob Dylan, uma pesquisa semiótica envolvendo perfumes. Todos esses trabalhos – e muitos mais – foram apresentados no III Mini-Enapol de Semiótica – Encontro dos Alunos de Pós-Graduação em Lingüística, ocorrido nos dias 4 e 5 de novembro, na FFLCH-USP. O evento, que contou com a participação de alunos de graduação e pós-graduação de diversas universidades paulistas, foi organizado pelo GES-USP – Grupos de Estudos Semióticos da USP. Em vinte horas de palestras, debates e mesas-redondas, pôde-se ver trabalhos de caráter bem contemporâneo, tratando de temas relacionados à cultura e hábitos populares.
O pesquisador Marcos Augusto Arrais apresentou os resultados de sua análise semiótica da capa do disco “Caça à Raposa”, de João Bosco e Aldir Blanc. Centrando-se no estudo da relação sincrética da capa com as linguagens musicais e verbais, o trabalho busca explicar o significado das figuras e imagens estampadas, tendo em vista o nome do disco e seu conteúdo musical e poético.
Nilton Hernandes expôs sua dissertação “O efeito da atualidade no jornalismo”. O pesquisador fez uma análise da sensação de proximidade temporal do leitor com a notícia sob o prisma da semiótica. Citando José Luiz Fiorin, Nilton mostrou os três momentos estruturalmente relevantes na constituição do sistema temporal: momento da enunciação, momento de referência e momento do acontecimento. Com o jornalismo, ocorre uma junção dos três fatores, o que provoca a sensação de concomitância com o que se lê. O estudioso ainda demonstrou o que se dá, semioticamente, quando se lê uma notícia de um dia anterior.
Débora Cristina Camargo apresentou o trabalho “O Discurso da Literatura Lésbica no Final do Século XX”. A autora propõe uma análise da literatura desenvolvida por escritoras homossexuais no Brasil do final do século passado. Ela descreve as duas formas de expressão da literatura lésbica desde seu surgimento: uma que anula e condena o sujeito da mulher lésbica e outra que problematiza e euforiza esse sujeito. A construção de um discurso que tem por objetivo ideológico explícito o fornecimento de um modelo positivo para a mulher homossexual é mostrada com obras da autora Fátima Mesquita. Outro ponto de destaque do estudo é a oposição feita com a literatura repressora do começo do século XX.
Vale ainda destacar os trabalhos “Semi-simbolismo em Abril Despedaçado”, em que Francisco Merçon traça uma análise semiótica do filme de Walter Salles, apresentando aproximações entre canção e trilha sonora, imagem e pintura, “O Delírio Figurativo em Bob Dylan”, de Mariana Ferraz, em que a autora estuda as figuras de significado complexo e difícil compreensão usadas pelo compositor, e “Semiótica dos Perfumes – Tipologia dos Usuários”, em que Ana Rüsche constrói um paralelo entre as categorais narrativas dos textos olfativos – as fragrâncias – e os valores atribuídos pelo discurso publicitário aos usuários de cada um deles.
O evento contou com a participação de cerca de 70 pessoas em cada um de suas quatro sessões e a teve a presença de intelectuais como Luiz Tatit e José Luiz Fiorin.