São Paulo (AUN - USP) - Os óleos de soja e girassol podem se tornar, no futuro, biocombustíveis viáveis para utilização comercial. É o que pensa o engenheiro Sílvio Figueiredo, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Segundo ele, aqueles tipos de biodiesel, que hoje são encontrados em maior quantidade nos supermercados, são os que têm maior chance de prosperar e conseguir substituir, ao menos em parte, o petróleo.
Com mais uma crise deste combustível e reservas cada vez mais escassas, novamente vem à tona os biocombustíveis. Menos poluentes e gerados a partir de fontes renováveis, eles podem começar a substituir gradativamente a gasolina e o diesel em veículos e equipamentos industriais. No ano passado, os veículos a base de álcool registraram um aumento de 46% nas vendas, em relação ao ano de 2002, segundo dados da Anfavea (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores).
Para Figueiredo, é difícil afirmar que os diversos tipos de biodiesel vão conseguir suprir a demanda do mercado, principalmente porque “a produção vegetal teria que ser enorme para conseguir atender totalmente a produção de diesel”. No entanto, o engenheiro do IPT diz que qualquer parcela da produção total que seja substituída já representa uma grande economia, uma vez que o Brasil ainda é dependente em relação aos derivados de petróleo.
A primeira condição para que uma fonte seja viável para a fabricação de combustível é que sua cadeia molecular se pareça com a da gasolina, ou seja, um hidrocarboneto. Um hidrocarboneto é uma combinação de átomos de carbono e hidrogênio.
O pesquisador afirma que a utilização de um biocombustível tem como segunda condição primordial a viabilidade econômica. Ele explica que, por exemplo, o gás natural é viável para os taxistas, que utilizam em seus veículos a gasolina, um combustível caro. Já para as frotas de ônibus, o gás não é, por enquanto, uma boa alternativa, pois esses veículos utilizam diesel, uma fonte que tem preço satisfatório mesmo quando comparado ao gás natural.
No entanto, para os grandes produtores de cana-de-açúcar, o diesel muitas vezes é um problema. Muitos deles começaram a utilizar uma mistura de álcool e diesel em seus tratores e equipamentos, conseguindo com isso uma redução considerável dos custos, já que eles podem obter o biocombustível a um preço baixíssimo, dentro da própria lavoura.
O mesmo está acontecendo com os carros Flex, que operam tanto com álcool quanto com gasolina. Figueiredo explica que muita coisa mudou desde a década de 80, quando começou a ser discutida a implantação dos carros a álcool. Antigamente, não havia preocupação em relação à emissão de poluentes e os motores operavam com controle mecânico, diferente dos atuais. Os motores dos carros mais modernos propiciam, a cada fabricante, a invenção de uma nova solução de compostos e combustíveis e dão ao usuário a possibilidade de maior rendimento e menor emissão de poluentes.
O pesquisador do IPT explica também que a grande vantagem dos tipos de biodiesel é que eles não pedem a fabricação de um motor específico para sua utilização. Por isso, “eles podem ser utilizados de acordo com a necessidade e a disponibilidade no mercado”. Por exemplo, se há um excesso de produção de óleo de soja para consumo culinário, o que restou pode ser transformado e usado no mercado de combustíveis, sem necessidade de mudanças nos motores e equipamentos automotivos.