O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), também conhecido por Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA), é um tema que carrega muita controvérsia, tanto no universo médico quanto educacional. De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), o TDAH “é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda sua vida”.
Apesar da doença ser reconhecida não só por muitos médicos mas também pela Organização Mundial da Saúde (OMS), muitos afirmam que a ela é apenas uma invenção que pais utilizam para justificar o mau comportamento de seus filhos em sala de aula ou uma criação da indústria farmacêutica visando lucrar em cima do tratamento.
Esse debate sobre a existência ou não da doença é muito pautado pela imprensa, que muitas vezes acaba defendendo um ponto de vista. Também é comum ver em revistas sobre saúde e comportamento matérias sobre o uso da ritalina, não só como forma de tratamento de crianças com esse distúrbio mas também como droga que adultos utilizam para ficarem mais alertas.
A pesquisadora Nathaly Galhardo, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP), analisou diversas publicações, tanto acadêmicas mas principalmente da imprensa, sobre o tema e reuniu esse material e suas conclusões na tese de mestrado: Aquilo pelo que se luta nos discursos sobre TDAH dirigidos à Educação.
Na visão da mídia
As opiniões sobre a existência e sobre o tratamento do TDAH não divergem em poucas vertentes. De acordo com Nathaly, são quatro posicionamentos diferentes que são colocados nas matérias de revistas e jornais sobre o assunto. O primeiro, e muito comum, é o que afirma que não há confirmação biológica do transtorno, e que a medicação utilizada faria mal à saúde. Para essas pessoas, se a criança apresenta hiperatividade, um profissional – psicólogo ou pedagogo – e maior atenção dos pais resolve o problema.
Outro posicionamento afronta diretamente o primeiro: defende a existência do TDAH e o uso de medicamentos para controlá-lo. O terceiro seria uma variação deste, porém mais alarmista e que chega a provocar uma espécie de medo em relação à doença e também ao uso da medicação. A última posição é mais subjetiva. Aos olhos da pesquisadora, há uma construção em torno do assunto que não aponta para apenas uma opinião concreta e que o modo como as informações são recebidas e interpretadas varia de acordo com a realidade de cada leitor.
Os números apresentados em publicações exemplificam a possível ambiguidade dessa última construção. “De acordo com informação publicada pelo Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos (Idum) em 2010, a venda de ritalina cresceu 1.615% na década passada, outro exemplo é a afirmação que de 3% a 5% das crianças em idade escolar possui o TDAH”, afirma Nathaly. “São dados alarmantes que chamam a atenção dos leitores e podem ser interpretados tanto como uma epidemia como exagero”.
Nas escolas
Geralmente casos de TDAH são identificados em sala de aula, já que o distúrbio se manifesta na infância. A criança tem dificuldade para se concentrar nas aulas e apresenta notas baixas em suas avaliações, além de, muitas vezes, entrar em conflitos com outros alunos e com professores.
Quando questionada sobre o modo que escolas lidam com o TDAH, Nathaly deixou claro que não há uma resposta certa: “Não podemos generalizar que todas as escolas tratam o TDAH de forma X”. Porém, acredita que é muito comum que o tratamento seja feito como forma de obter respostas para sintomas subjetivos que talvez possam indicar existência do distúrbio, focando apenas na doença e não nos problemas de convivência e aprendizado que ela causa à criança.
Imagem retirada de http://aprendizagemtdah.blogspot.com.br/2013/02/defcits-e-limitacoes.html