Caco Barcellos, repórter da rede Globo, afirmou que o atual aumento da violência contra jornalistas é também fruto da postura tomada por esses na cobertura de conflitos. No debate Segurança para quem fala: Liberdade de Expressão em toda a mídia, promovido pelo Consulado Britânico na Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP), Barcellos, Carlos Eduardo Lins, do Observatório da Imprensa, e Mark Hilary, blogueiro britânico que vive no Brasil, discutiram também a importância da regulação da imprensa e as novas formas de se fazer jornalismo.
O professor Eugênio Bucci (ECA) mediou o debate e falou sobre a “promiscuidade” da interferência da política na imprensa brasileira. Bucci lembrou que a existência de empresas privadas de comunicação é aceitável. O grande problema, no entanto, é o cruzamento de fronteiras. Quando um político é proprietário dos meios de comunicação de uma cidade, há um claro e condenável conflito de interesses. Por isso o professor da ECA reforçou a necessidade de uma regulação da imprensa brasileira, que atue na produção de conteúdo não como censura, mas como garantia da liberdade de expressão.
Assassinatos
Carlos Eduardo Lins falou sobre o aspecto mais trágico do cerceamento da liberdade de imprensa: os crimes fatais contra jornalistas. Ele ressaltou que nunca tantos jornalistas foram mortos na história da imprensa. Segundo Lins, em 2012, a Unesco registrou 121 assassinatos, o maior número já registrado desde que o levantamento começou a ser feito. “O Brasil, infelizmente, está entre os top 10: só em 2013 já foram quatro jornalistas assassinados”. O diretor do Observatório da Imprensa lembrou ainda que geralmente os crimes ficam impunes – apenas 10% desses assassinatos nos últimos 20 anos receberam punição – o que gera ainda mais tensão, afinal a impunidade funciona como uma legitimação dos incidentes.
Divergências
Entre outros fatores, Lins apontou que uma suposta mudança no caráter das guerras teria motivado o aumento das mortes. “No século passado, os jornalistas tinham certa imunidade em situações de conflito”, afirma. “Um dos motivos da perda desse privilégio é que as guerras mudaram de caráter: hoje elas são menos econômicas e mais religiosas e ideológicas, perdendo racionalidade”, completa.
Caco Barcellos discordou quanto a esse ponto. Ao utilizar a última Guerra do Iraque como exemplo, o repórter defendeu que, apesar da fachada religiosa, o conflito não buscava apenas depor um ditador ligado a grupos islâmicos extremistas, mas também iniciar uma batalha pelo petróleo do país. Dito isso, Barcellos ressaltou que não existe violência por si só. “Ela é sempre um resultado, uma contrapartida”. O apresentador do programa Profissão Repórter acredita que os jornalistas tem tomado um partido muito claro na hora de cobrir os conflitos – sejam guerras ou o tráfico nas favelas – e assim são muitas vezes recebidos como inimigos. Para ele o jornalista virou parte da classe dominante e isso prejudica seu papel e sua segurança.