A Virada Sustentável, evento municipal relacionado à preservação do meio-ambiente teve presença também no meio universitário. Realizada na ECA (Escola de Comunicações e Artes da USP), envolveu coordenadores de diferentes grupos de pesquisa e visou iniciar a discussão sobre como a pesquisa universitária – mesmo a pesquisa nas áreas de humanas – tem mais relação com o meio ambiente do que se presume e o quanto entender alguns dos conceitos da área de comunicação ajuda no entendimento do conceito de sustentabilidade.
É com essa premissa que o professor Massimo di Felice, do CRP (Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo), inicia sua fala na primeira mesa-redonda do evento. Ele coordena um projeto de pesquisa chamado Redes digitais e sustentabilidade que pretende “buscar relações entre comunicação e sustentabilidade e, ainda, pesquisar a interação entre mídias digitais e a questão ecológica”. O professor afirma que é o papel da USP, como universidade pública, se conectar à sociedade.
Sobre a atualidade, di Felice explica que “nossa época está marcada por duas transformações: a revolução digital e a emergência de uma consciência sobre a questão ambiental”. A questão ambiental encontra-se, para ele, em uma posição muito diferente da que esteve até então, em forma de contradição: a cidade e o campo, a natureza e a tecnologia. Pelo contrário, explica o professor “a tecnologia, os elementos naturais e as inovações são constituintes de uma cultura”. Que cultura é essa? A cultura eco.
Nessa cultura, estamos vivenciando uma nova fase: fase da interação. Para isso deve-se construir uma nova concepção do que é a sociedade. Nessa concepção, de acordo com di Felice, os membros de uma sociedade não são somente pessoas, mas também a fauna, a flora e os elementos naturais como rios e lagos. Ou seja tudo aquilo com que os seres humanos interagem. Essa é a ecologia social, ou seja, é um novo tipo de complexidade ambiental: “no interior da biosfera, ou seja, é um novo tipo de complexidade ambiental: “no interior da biosfera,não há externalidade”, explica di Felice. Os elementos, nessa concepção, são codependentes. Ao invés de separá-los em diferentes categorias, é possível entendê-los como parte de um mesmo todo, que só funciona se houver interação. Para explicar o conceito de sustentabilidade, di Felice empresta um termo da comunicação e das redes digitais: a interface. O ambiente de encontro de todos os fatores de um ecossistema, onde “em lugar de separar, há interação e conexão”. Na comunicação, quando há interação, há transformação. É nessa interface, portanto, que os elementos podem transformar uns aos outros e é assim que o ecossistema se forma. Outro fator importante é o equilíbrio entre os elementos da natureza. Os níveis não devem ser fixos e hierárquicos para determinar a importância de cada um. Pelo contrário, devem ser mutantes e conectar os indivíduos e o meio-ambiente em forma de rede. Isso reflete a comunicação e as redes digitais: cada vez mais, a sociedade se encontra em uma dinâmica de redes, de conexões mais mutáveis e menos hierárquicas. O mesmo, se aplicado ao meio-ambiente, pode trazer vantagens. Desta maneira, explica do Felice, “nós não sabemos mais onde terminamos. Somos parte da Terra e nosso destino depende do destino da biosfera”.
A importância da aplicação dos estudos realizados na ECA aos estudos sobre meio ambiente e sustentabilidade é a nova visão que a comunicação traz a essas questões. Ao invés de reforçar a contradição entre tecnologia e preservação, tal como é feito em visões mais tradicionais, o estudo do projeto Redes digitais e sustentabilidade evidencia o quanto é fundamental para o meio ambiente este entendimento em forma de rede. “A relação entre indivíduo, tecnologia e meio ambiente é positiva enquanto houver interação e transformação entre eles”. Assim, é importante que, na busca pela sustentabilidade, entenda-se que o ser humano faz parte de um sistema e interage com todos os seus elementos, cada um essencial para a manutenção da totalidade. Afinal, explica di Felice, “a grande lógica por trás da sustentabilidade é quebrar divisões”.