No Brasil, é muito popular a cultura do uso de plantas medicinais para o tratamento de alguns problemas de saúde, principalmente distúrbios gástricos e respiratórios. Estes vegetais podem se tornar medicamentos fitoterápicos. “A atividade, neste caso, vem de diversas substâncias que atuam em conjunto, como em um sinergismo”, explica a professora Elfriede Marianne Bacchi, líder do grupo de Farmacognosia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF/USP). Identificar os compostos responsáveis pela ação e o mecanismo desta são as linhas de interesse da pesquisa.
O grupo se especializou em plantas medicinais brasileiras que apresentam atividade antiúlcera e cicatrizante. A partir dos vegetais usados por grupos da população, a pesquisadora observa quais são as substâncias responsáveis pelo efeito. Deste modo, a pesquisa trabalha com o isolamento de compostos, observando a maneira como eles agem.
Um dos focos de interesse é o grupo de substâncias denominado flavonoides. Estes possuem atividade anti-inflamatória, antialérgica e, principalmente, antioxidante. Nos vegetais, são responsáveis por dar coloração às flores e também por uma ação protetora.
Deste modo, a pesquisa observou, nas plantas tradicionalmente usadas para tratar problemas gástricos, quais possuíam estes compostos. Sabe-se que, no caso de medicamentos fitoterápicos, uma série de substâncias contribui para o efeito terapêutico. No entanto, observou-se que alguns destes flavonoides possuem efetivamente atividade antiúlcera.
A pesquisa também observou os maracujás, plantas do gênero passiflora. Tradicionalmente, o efeito relacionado a eles é de calmante. No entanto, o grupo constatou que algumas passifloras apresentaram ação antiúlcera. A folha do maracujá comercializado para consumo da população, a espécie Passiflora edulis, foi estudada pelo grupo. “Apresentou uma atividade interessante, mas ainda estamos estudando”, afirma Elfriede. Uma linha de pesquisa que pode ser explorada futuramente é se o fruto apresenta esta ação de combate às úlceras.
Nanoencapsulação
No momento, o grupo está estudando o comportamento de extrato vegetais inserido em partículas microscópicas (nanopartículas). Deste modo, após a observação de atividade terapêutica de certas plantas medicinais, fez-se a nanoencapsulação. Depois disso, foi analisada a eficácia destas nanopartículas, comparativamente ao extrato comum.
O extrato vegetal, obtido da folha de algumas passifloras, foi nanoencapsulado para verificação da atividade antiúlcera. Os trabalhos ainda estão em curso, sem conclusões fixas. “Em alguns casos, a ação contra as úlceras foi muito melhor com as nanopartículas, mas não se pode generalizar, porque em outros estudos isso não aconteceu”, afirma Elfriede. Ela explica que vários fatores estão envolvidos, como a estrutura química da substância presente no extrato. Uma das causas que podem explicar esta melhor eficácia é o fato das partículas serem microscópicas. Assim, quando dentro do corpo humano, têm sua absorção facilitada.
As indústrias de fitoterápicos no Brasil são, em sua maioria, pequenas, com baixo orçamento. Deste modo, não tem capital para investir em pesquisa. Assim, o estudo é importante para que futuramente possa ser usado para o desenvolvimento de medicamentos. “Se for comprovado efetivamente que a absorção é melhor, já é um passo a mais neste sentido”, explica Elfriede.