Eduardo Calbucci, professor do Anglo Vestibulares e doutor em linguística pela Universidade de São Paulo, lembrou em sua fala no evento Identidade nacional: a representação do Brasil nas narrativas, que muitas vezes a obra machadiana pode parecer decepcionante quando nos damos conta de que Machado, apesar de ser mulato e ter nascido pobre, nunca foi um militante da causa negra ou ativista político. “Ele nunca falou explicitamente sobre a importância do Brasil acabar com a escravidão. Na verdade a obra dele fala por si mesma”, afirma o professor. “Às vezes a gente se frustra porque a biografia do autor pode não ser tão interessante como sua obra”. O evento, organizado pela Jornalismo Júnior, contou também com a presença de Maria Cristina Mungioli, professora do curso de Audiovisual, que falou sobre a teledramaturgia e produção de sentido na identidade brasileira.
Inovação
Conhecido como maior romancista brasileiro, o escritor carioca nunca saiu da cidade do Rio de Janeiro. Calbucci ressaltou que esse é um fator determinante para que a obra machadiana não defenda causas ou trace o comportamento da sociedade brasileira da época, mas faça uma investigação humana através dos indivíduos. Segundo Calbucci, Machado não era parte da elite preconceituosa do Rio de Janeiro, mas sabia representá-la muito bem. É por conta disso que o escritor se torna um analista muito crítico da sociedade brasileira.
O professor ressaltou ainda que Machado foi inovador em tratar temas que, no século 19, eram muito comuns, como o adultério. Presente em livros como Madame Bovary e O Primo Basílio, a traição foi abordada de um jeito completamente novo em Memórias Póstumas de Brás Cubas, quando o escritor procura mostrar que a consideração pública regia mais as relações afetivas que os próprios ímpetos emocionais. “Em Brás Cubas, o narrador dá a entender que Lobo Neves não só sabe do caso da esposa com ele como apoia para poder manter o status quo”, ressalta.
Cultura popular
Ao contrário da obra do famoso escritor, as telenovelas estão presentes na formação cultural da grande maioria dos brasileiros e abrangem diversos setores sociais. A pesquisadora Maria Cristina Mungioli lembrou que as telenovelas surgiram com forte apoio governamental durante a ditadura militar e disso resulta a apropriação de um ideário pedagógico por elas que perdura até hoje. Essas duas características ajudam a entender a televisão que temos hoje. “É uma televisão fortemente empresarial no sentido de produção e venda, principalmente quando falamos da Rede Globo, mas também é uma emissora que teoricamente sempre se preocupa com a educação.”
Maria Cristina Mungioli lembrou ainda em sua fala que o Brasil, juntamente com outros países da América Latina, possui uma característica bastante peculiar de ter um horário nobre 100% nacional na televisão. Isso, que se deve principalmente às novelas, é uma forma importante de afirmar a identidade nacional e construir uma cultura própria. “Muita gente se preocupa porque na França, por exemplo, o horário nobre é todo ocupado por séries americanas”, ressalta.