ISSN 2359-5191

24/06/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 43 - Arte e Cultura - Escola de Comunicações e Artes
Revistas virtuais se usam de testemunhos na luta contra o machismo

As páginas online de punk feminista nas quais os fãs podem contribuir diretamente, ou seja, os e-zines, são uma ferramenta bastante interessante para se pensar o valor do testemunho como instrumento jornalístico e de denúncia contra o machismo. Essas revistas eletrônicas, por serem feitas de maneira cooperativa, permitem uma maior interação entre autoras e leitoras, além de darem espaço às queixas das meninas. 

Foi o que apresentou a jornalista da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, Eliza Casadei no 5º Encontro Alterjor - grupo de pesquisa de jornalismo popular e alternativo. Ao analisar e-zines de  Riot Grrrls - movimentos composto por meninas jovens que usam o punk rock como instrumento de luta feminista -, a pesquisadora notou que além de serem uma produção jornalística amadora, essas plataformas são um mecanismo de identificação social e de questionamento de gênero. Além de divulgar suas bandas, essas garotas utilizam-se do espaço virtual para fomentar debates contra a violência doméstica, estupro, submissão feminina e a sociedade patriarcal como um todo.

O investimento pessoal dessas meninas nos e-zines é bastante intenso. Esses veículos chamam a atenção por serem verdadeiras compilações de testemunhos e de abrirem espaço para a contribuição das leitoras. “Alguns desses sites têm uma espécie de editoria de divulgação de conteúdo artístico e textual produzido por fãs e uma de denúncia, onde as meninas podem compartilhar as experiências machistas pelas quais foram obrigadas a passarem - desde homens que mexeram com elas na rua, até casos mais ‘pesados’ de violência sexual”, atestou Eliza.

Os e-zines derivam dos antes chamados fanzines, os quais consistiam em uma publicação impressa desse veículo. Os fanzines foram bastante populares na década de 1990. Com o enfraquecimento do grunge e do punk, eles também acabaram ficando um pouco esquecidos. No entanto, as novas formas mais fáceis de publicação possibilitadas pela maior difusão da internet fizeram com que eles pudessem voltar em formato digital. “A volta em configuração de e-zines  tornou algumas bandas, como Bulimia e Dominatrix, conhecidas para além dos fãs de punk rock”, afirmou a pesquisadora.

Com um forte discurso do “Do it yourself” - “Faça você mesmo”, um dos lemas anarquistas do movimento punk -, os e-zines dessas garotas rejeitam as grandes editoras, assim como suas bandas repudiam as gravadoras mais famosas. Outra característica interessante desses veículos são suas capas. “Muitas dessas revistas apresentam mulheres empunhando símbolos fálicos - guitarra -, simbolizando o empoderamento feminino em sua capa, ou figuras de ícones do movimento feminista, como a Frida Kahlo, Virgínia Woolf, entre outras”, disse a jornalista.

Além disso, várias dessas revistas virtuais abarcam um conjunto mais diversos de pautas sociais, conforme o interesse dessas meninas. Se uma delas é vegana, por exemplo, seus e-zines acabam discutindo e defendendo os direitos dos animais, entre outras questões ambientalistas. “Essa associação com outros movimentos sociais se configura em um exercício de um jornalismo engajado, como todo jornalismo devesse ser”, concluiu.


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