As estratégias para a alfabetização de alunos no sistema público de ensino foram o tema para a produção do artigo Novos e antigos caminhos no ensino de português na alfabetização, de Luciene de Souza, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). Ela utilizou sua experiência de 60 horas de estágio em uma escola da rede estadual, acompanhando uma turma do primeiro ano do Ensino Fundamental, para apontar quais são os grandes problemas enfrentados nessa etapa do aprendizado, que muito se devem adição do “pré” ao EF.
Diferentes níveis de conhecimento
Desde que houve a mudança de nomenclatura e a adição do que era o “pré” ao Ensino Fundamental, há uma mistura ainda maior de crianças de diferentes idades na mesma turma. Atualmente, salas de primeiro ano do fundamental apresentam alunos entre 6 e 8 anos de idade e essa abrangência acaba sendo um problema.
Para auxiliar essa transição, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, através do programa Ler e Escrever, fornece o Guia de planejamento e orientações didáticas, que é o material que os professores acabam utilizando para programar suas aulas.
De acordo com Luciene, a maior parte das crianças mais novas chegam “cruas” à escola. Apesar de pesquisadores afirmarem que aos 6 e 7 anos de idade elas já conseguem distinguir fantasia e brincadeira de seriedade e aprendizado formal, o que se vê nas escolas são crianças que não sabem se portar em sala de aula não por má criação, mas por não terem amadurecido. “Às vezes isso também se deve a infantilização que os próprios pais impõem”, comenta Luciene após dizer que algumas crianças vão fantasiadas às aulas ao invés de usar uniforme.
Estas não tem nenhuma base de escrita e ainda não tem a capacidade de olhar para uma letra e identificar que é algo além de um desenho e desenvolvimento motor para se segurar um lápis e rabiscar letras ainda não ocorreu. Em contrapartida, há aqueles que ingressam na escola pré-alfabetizados. Essas crianças identificam letras como símbolos que formam vocábulos, e muitas vezes conseguem escrever seus próprios nomes e algumas palavras simples.
Cumprimento de metas
O processo de alfabetização é formalizado em algumas etapas. O aluno é classificado, em um primeiro momento, como pré-silábico, seguido de silábico sem valor, silábico com valor e, finalmente, alfabético. De acordo com Luciene, o objetivo do primeiro ano é cumprir com essa meta, e, dessa forma, o ano escolar é dividido de maneira que cada fase ocupe um tempo determinado, acabando com as possibilidades do professor flexibilizar suas aulas de acordo com a sala.
Esse método não leva em consideração que muitos alunos poderiam ir além, pois já iniciaram o ensino fundamental com uma boa base e também não deixa de ser prejudicial àqueles que precisam de mais tempo para aprender a ler e a escrever do que o calculado pelo programa escolar.
O que acontece é que crianças que já tinham embasamento maior acabam se enfastiando nas aulas, pois perdem interesse já que não estão sendo desafiados. Isso pode causar não só um atraso na educação quanto na capacidade de socialização, pois elas tendem a se fecharem mais ao convívio com outros colegas.
No caso das crianças que necessitariam de maior tempo para serem alfabetizadas, um mecanismo de defesa é criado. Um processo de escolarização ocorre, ou seja, ela entende como deve se portar dentro do ambiente escolar. Aprende que deve dar respostas ao professor, mas não quais seriam as respostas corretas. Assim, prefere estar errado ao ficar calado e aparentar não entender o que está sendo visto em aula.