A Escola Municipal de Ensino Fundamental Desembargador Amorim Lima é muito conhecida no universo da educação. Ela apresenta uma proposta baseada na Escola da Ponte, de Portugal, e quebra diversos padrões da educação formal da atualidade. Por exemplo, as únicas disciplinas que são ensinadas separadamente são português, matemática, inglês e educação física. Conteúdos de história e geografia, por exemplo, são dados em aulas em grandes salões para alunos de diferentes séries.
A estudante de licenciatura em Letras da Universidade de São Paulo (USP) Ester Sanches Ribeiro teve a oportunidade de atuar dentro da escola como monitora, e lá observou a produção do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) dos alunos da oitava série. A partir dessa experiência, escreveu o artigo Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na oitava série: iniciação à leitura e à produção de textos de “ grande fôlego”, sobre o qual falou no Intercâmbio de Relatos de Estágio em Docência (InREDO) na Faculdade de Educação (FEUSP).
Produção do TCC na oitava série
A ideia de criar um Trabalho de Conclusão de Curso para marcar o término do Ensino Fundamental não é completamente nova ao ensino no Brasil, porém o fato de ocorrer em uma escola da rede municipal de São Paulo e a forma como ele é feito surpreendem.
Os alunos tem a autonomia para escolher o foco de seu trabalho. Depois de escolhido, períodos de aula são cedidos aos alunos para utilizarem a sala de informática e pesquisarem sobre o assunto, tendo sempre um professor presente para auxiliá-los. O desenrolar é feito a partir da estipulação de metas mensais e de acompanhamento da produção de cada aluno por e-mail e durante os momentos de pesquisa. Como uma defesa de TCC como outra qualquer, os alunos expõe seu trabalho à uma banca avalaiadora e a familiares e amigos.
A escolha do tema foi o aspecto que mais chamou atenção de Ester. Ele não precisa estar vinculado a conteúdos vistos em aulas e é isso que acontece na maioria das vezes. Os alunos buscam em suas vidas pessoais, como família e lazer, aspectos que querem tornar objeto de estudo. Um exemplo dado por Ester foi de um aluno que escolheu tratar da Segunda Guerra Mundial por conta de um videogame que era contextualizado nesse momento histórico. O mesmo ocorreu com uma aluna que tratou sobre o capitalismo, pois o pai trabalhava com economia.
De acordo com Ester, grande parte dos temas escolhidos também são tratados em sala de aula. Não há dúvidas que os alunos enxergam, sim, as aplicações do que aprenderam na escola em sua pesquisa, porém há uma certa relutância em fazer essa relação abertamente.
Essa relutância, para Ester, é esquisita. Essa escola especificamente é um ambiente extremamente aberto, que propõe debates e diálogo, além de optar por trabalhar em um formato que possibilita a socialização entre alunos de diversos anos. Atividades que promovem maior conhecimento da cultura do Brasil e de outras nações são feitas e trabalhos são expostos nos corredores. Para ela, se há uma escola na qual alunos deveriam gostar de estudar, e assim atribuir muito de seu TCC à própria escola, é a Amorim Lima.
Porém não é isso que ocorre. Para ela, isso pode provar que a imagem da escola, a concepção cultural que nós fazemos dela, é sempre negativa. Para alguns de seus colegas que estavam presentes no InREDO, isso só mostra que a escola cumpre a proposta de tornar seus alunos autônomos e capazes de fazer essas relações entre conteúdo e “mundo real” sem precisar se apoiar diretamente na figura da escola.