Professor conferencista do curso de Jornalismo e cientista social, Sandro Assêncio defendeu em maio passado sua tese de Doutorado, na qual faz uma crítica ao pensamento de Jungen Habermas. No estudo, Assêncio critica o fato de Habermas ter desenvolvido sua teoria do agir comunicativo sem levar em consideração os diversos tipos de relação que os homens estabelecem entre si, tanto sociais quanto materiais.
Habermas, filósofo e sociólogo alemão, em sua Teoria do Agir Comunicativo, publicada originalmente em 1981, mas que só foi editada no Brasil em 2012, entende a comunicação como característica que humaniza o homem, em contraponto a Marx, que vê essa função no trabalho. Orientado pelo professor Celso Frederico, Assêncio já havia estudado essa oposição em sua dissertação de mestrado. “Acho que preenche uma lacuna no campo da comunicação. A gente não vê muitas teses teóricas na ECA (Escola de Comunicações e Artes da USP)”, afirma o pesquisador.
Assêncio conta que desde os tempos de Platão até a década de 1950 a comunicação era vista apenas por sua função designativa, ou seja, estudava-se o diálogo apenas pelo seu conteúdo e não pelo ato de se comunicar em si. Após os anos 1950, os filósofos John Austin e, posteriormente, John Searle desenvolveram a teoria dos atos de fala, que mostra que a linguagem é tão ato como o trabalho. Segundo essa teoria, toda produção linguística é composta por três atos. A forma como alguém diz algo, bem como a força que uma fala tem para mudar atitudes e as consequências produzidas por essa fala são tão ou mais importantes quanto o significado do que é dito.
A crítica que Sandro Assêncio faz à Teoria do Agir Comunicativo de Jungen Habermas é devida ao fato de ele ter nela radicalizado essa análise de Austin e Searle, e abstraído completamente a teoria dos atos de fala para aplica-la à realidade. Desse modo, o filósofo alemão desliga a teoria da linguagem do mundo concreto. Quando Habermas analisa a sociedade através do estudo dos atos de fala, ele forja uma realidade para que sua teoria seja verdadeira. “É um campo muito árido para ser estudado porque é extremamente abstrato”, reforça o pesquisador.
Para Habermas, não existe apenas a razão ligada ao trabalho, mas também a inscrita nos atos de fala e ela sempre levaria ao consenso. Para o autor, todo diálogo tende ao consenso, e para que isso aconteça, ele parte do pressuposto de que os envolvidos dizem apenas a verdade. Segundo o pesquisador, Habermas abstrai em sua teoria o que a há de mais notório na sociedade capitalista, que é a divisão de classes. “Isso, na realidade do capital não faz nenhum sentido, porque o que menos se faz é dizer a verdade”, critica Assêncio.