A educação é parte indissociável do processo de produção científica. Mais ampla do que o ensino, ela produz a base para a exploração e criação de novas ideias. Tendo essa importância latente como base, a professora Rosária Justi, docente da UFMG, Universidade Federal de Minas Gerais, pesquisa a “co-construção” de conhecimento no campo das ciências. Sua pesquisa se baseia no conceito de modelagem, processo no qual se desenvolve uma situação-problema para a apreensão do saber.
A professora enfatiza que a educação em ciências, por meio da modelagem, deve se focar em todos os elementos e processos envolvidos nesse empreendimento humano. Não apenas ensinar, mas fornecer toda a experiência e comunicação, construindo o ambiente e as condições para esse desenvolvimento. Ela ressalta a importância da exploração de interações em sala de aula que propiciem a construção desse conhecimento e qual o contexto em que elas ocorrem.
Nesse processo, há uma imensa importância da presença e função do educador. As atividades envolvem tanto um envolvimento quanto uma participação do docente, base para uma construção conjunta do raciocínio. Dentro da pesquisa, investiga-se o processo de relação professor-aluno no ensino de ciências fundamentado em modelagem.
Essa pedagogia pode ser inserida nos próprios contextos de pesquisa em ciência, nas práticas enfretadas pelos cientistas quando exploram essa área. No desenvolvimento desse estudo, procurou-se definir um objetivo para os modelos, obtendo dados sobre a entidade a ser modelada, analogias e modelos matemáticos e a integração das diversas subetapas. Para isso, a pesquisa baseia-se no conceito de co-construção, experiência que demanda participação mútua do estudante e do professor.
Com essa exploração, a pesquisadora percebeu que toda a questão não envolvia somente o aluno aprender o conteúdo. Verificou-se quão importante eram as questões levantadas tanto para educadores quanto para os alunos. As questões exercem função cognitiva e social, foi necessário perceber tanto o aprendizado quanto a motivação e o engajamento do aluno. Questões que exigiam indagações e raciocínio mais profundo produzem resultados muito melhores. “Perguntas onde o professor fala e o aluno só completa a frase não são muito estimulantes e pouco efetivas”, comenta Justi. Por isso, é importante que se coloquem questões que influenciem o raciocínio, que gerem problemáticas, às quais necessita-se justificar o porquê e não apenas receber e repetir o conteúdo já afirmado.
O processo envolveu o ensino de ligações iônicas para 38 estudantes de 15 a 16 anos em uma escola pública da região metropolitana de Belo Horizonte. A turma, de período noturno, compôs grupos formados espontaneamente.
Sem nunca ter tido experiências com modelagem, as aulas foram gravadas por duas câmeras, uma filmava as discussões da professora com a classe e outra captava as discussões entre os próprios grupos. Na co-construção, avalia-se tanto a experiência tirada da relação entre o docente e a sala quanto os progressos oriundos dos diálogos entre os próprios estudantes.
A análise de dados possibilitou a avaliação de cada uma das falas em termos de resultados obtidos. Conclui-se que há um sucesso em ações relacionadas com questionamentos. A experimentação empírica os deixa mais livres para argumentar. Foram avaliadas também as habilidades e ações manifestadas pelos estudantes, características necessárias para a participação de um indivíduo em atividades investigativas. A partir da transcrição dos vídeos foi possível analisar as falas de cada estudante. Identificaram a evolução e desenvolvimento, possibilidade de elaboração de questões, hipóteses e argumentos.
Em alguns momentos é possível identificar uma certa independência de alguns estudantes, que conseguem trabalhar e levantar questões sem a ajuda da professora. O aluno, ainda que de forma menos complexa, consegue substituir a educadora. Esta, por sua vez, varia sua ação em diversos momentos, sendo impossível configurar padrões de atividade.
Os resultados foram positivos, os estudantes conseguiram acionar um conhecimento prévio necessário, questionaram e se articularam entre si. Cada ação da educadora gerou habilidades nos estudantes que não seguiram uma linearidade ou padrão. A experiência possibilitou até mesmo que alguns estudantes contribuíssem para a modificação de ideias de seus próprios colegas. As implicações influem na formação de professores, o processo pode dar suporte a discussões relevantes nos campos da pesquisa em educação no campo das ciências exatas. Questiona-se a necessidade do desenvolvimento e preparo de profissionais que favoreçam a ocorrência de todo esse processo educacional. Levanta a pauta da distinção de aprender o conteúdo e aprender a pensar. Somente a segunda permite argumentar, questionar, observar e discutir ideias, possibilita o desenvolvimento de uma série de habilidades.