O Laboratório de Investigação e Crítica Audiovisual (Laica) da Escola de Comunicações e Artes (ECA USP) promoveu a mostra Arranjos Experimentais – Cultura Numérica Audiovisual. O evento reuniu pesquisadores tendo em vista a exposição de trabalhos com abordagem, tanto científica, quanto artística da performance audiovisual – modelo inovador nesse campo. Ele contou com seminários e performances de estudiosos nacionais e internacionais da área digital.
Os temas debatidos no evento não se restringiam estritamente ao mundo do cinema. Eles abordavam universos tangentes, como a questão da música visual e como a própria desconstrução do cinema tradicional. Exposições como a da pesquisadora alemã da Universidade de Hamburgo, Cornelia Lund, Música Visual – Aspectos de um não-gênero ou como a do professor da ECA, Arlindo Machado, A desmontagem do dispositivo cinematográfico, trouxeram uma discussão do que deveria ser considerado ou não cinema. Cornelia levantou questões como o local da música visual como uma performance audiovisual. Além disso, entre os palestrantes internacionais, também estava a performer finlandesa Mia Makela, uma das precursoras do Live Cinema. A modalidade de cinema é usada para designar a apresentação ao vivo de imagens, dados e sons do artista para a platéia.
Performance coletiva
André Parente, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em sua palestra Do cinema experimental ao performático, abordou as novas formas do fazer cinema. O artista se baseou em instalações próprias para demonstrar como o público pode interagir com a obra e fazer com que ela passe a ser, não um simples filme, mas interativa com quem participa dela (ou a vê). Para isso, ele apresentou a instalação Circuladô, feita no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo. A composição de Circuladô foi inspirada na Zoetrope – uma máquina circular, criada em 1834, que proporcionava a ilusão de movimento. A instalação de Parente conta com vários painéis dispostos em forma de círculo que passam imagens que trazem sensações limite, como loucura, morte ou transe. O espectador se posiciona no centro da obra e gira uma alavanca que faz com que as imagens se movam na velocidade empregada pelo público. Dessa forma, ele participa tanto da visualização, quanto da construção da performance.
A docente da Ufrj, Kátia Maciel, expôs a palestra intitulada Instruções para filmes. O objeto de discussão foi uma caixinha homônima recebida pela professora. Nela, estavam diversas instruções para fazer filmes hipotéticos. Algumas das regras não se restringiam a tela do cinema: uma delas propunha recrutar um casal da platéia do cinema e fazê-los beijarem durante dez minutos. Esse seria o próprio filme, ou a própria performance audiovisual, no caso. Outras sugestões eram quase impossíveis de se seguir nos dias de hoje, como voltar no tempo para produzir o filme. Assim, as instruções jogavam com o mundo da performance e o da produção filmográfica.
Parcerias
O seminário Arranjos Experimentais – Cultura Numérica Audiovisual foi feito em parceria com o Teatro da USP (Tusp) e com o Cinusp Paulo Emílio. A performance multimídia de Steve Dixon, T.S. Elliot’s the Waste Land, abriu o evento no Tusp. Além das palestras na ECA, o Cinusp também participou em parceria do evento com a mostra Arranjos Experimentais – Arte audiovisual latinoamericana. O encerramento se deu com a apresentação de diversas performances no Paço das Artes. A mostra evidenciou a complementação entre os aspectos teóricos e práticos das performances audiovisuais digitais.