São Paulo (AUN - USP) - O Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP) realizou uma pesquisa sobre o fumo passivo entre crianças e descobriu que cerca de 24% delas apresentavam a cotinina, uma substância derivada da nicotina. Foram analisadas as amostras de urina de 78 crianças, de zero a cinco anos de idade, que freqüentam o pronto-socorro da unidade.
João Paulo Becker Lotufo, pediatra do HU, explica que o número dessas crianças, que são fumantes passivas, pode ser ainda maior, já que a cotinina fica no corpo da pessoa por até 30 horas. Caso os pacientes tenham entrado em contato com cigarro em um intervalo maior que esse, a substância não é identificada. Uma enquete feita por Lotufo em uma escola de São Paulo revelou que de mil crianças entrevistadas, cerca de 50% tinham pelo menos um fumante em casa.
A nicotina é a substância presente no cigarro responsável pela dependência. Ela é absorvida pelo corpo e depois de 30 minutos se transforma em cotinina, substância que o corpo libera ao urinar.
Segundo Lotufo, a nicotina é a droga que mais vicia, inclusive mais do que o álcool, a cocaína e a maconha. “A diferença é que o cigarro é aceito por lei”, diz. “A cada três pessoas que começam a fumar, uma vira dependente. A cada seis indivíduos que ingerem bebidas alcoólicas, um vicia no álcool. Para a maconha, esse número é de um a cada nove”, explica.
Os fumantes são cerca de 30% a 35% da população mundial. Desses, 20% são fracos dependentes, que fumam menos de dez cigarros por dia. O grau de dependência do fumante é medido pelo número de cigarros que ele consome por dia e o tempo que leva entre o ato de acordar e o de fumar um cigarro. Quanto menor for esse tempo, maior o nível da dependência.
Conseqüências
O fumante passivo aumenta em 25% o risco de ter infarto e em 20% o risco de ter câncer do pulmão, segundo Lotufo. “Nas crianças, há um aumento nos riscos de otite (infecção do ouvido), asma, pneumonia e morte súbita”, diz. Ele ressalta que a criança fumante passiva tem uma predisposição maior a se transformar em fumante.
Para Lotufo, o combate ao tabagismo deve começar ainda na infância e adolescência, já que grande parte das pessoas começa a fumar nessa faixa etária. Os principais fatores de risco para os jovens começarem a fumar são oferta de cigarros em casa, ter pais e amigos que fumam e tolerância da família em relação ao cigarro.
Como parte das medidas preventivas contra o fumo, Lotufo cita a importância de se oferecer informações sobre os malefícios do cigarro. “Pouca gente sabe que parte das amputações é causada por problemas de circulação sangüínea, decorrentes do tabagismo”, diz o pediatra.
O Hospital Universitário desenvolve uma campanha contra o tabagismo. Para os fracos dependentes, que têm mais facilidade em largar o vício, são feitas ações como uma frase contra o cigarro por no receituário e gastar um minuto da consulta para falar sobre os malefícios do fumo.
Para os dependentes mais fortes, há outros tipos de iniciativas, como as Terapias Cognitivas Comportamentais, que são reuniões semanais, durante dois meses, nas quais o indivíduo é instruído sobre os malefícios do cigarro. Em alguns casos, são usados medicamentos contra o vício (reposição de nicotina através de adesivos e chicletes que contêm a substância). Essa reposição visa diminuir a síndrome de abstinência, reação do corpo contra a falta da nicotina (taquicardia, sudorese e nervosismo). Em alguns casos são usados antidepressivos.
De acordo com Lotufo, o resultado dessas terapias tem sido positivo, já que entre 30% e 60% conseguem sucesso na tentativa de parar de fumar.
O HU oferece auxílio para quem quiser parar de fumar. O serviço é aberto a funcionários do hospital e para alunos, funcionário e professores da USP. Os interessados podem se inscrever na Unidade Básica de Saúde do Hospital (UBAS-USP).
Mais informações: 11-3039-9409