São Paulo (AUN - USP) - O termo “depressão” se refere a uma doença que a cada dia atinge uma parcela maior da população e cada vez mais presente em jornais e revistas. Apoiada nestes fatos, a pesquisadora Eunice Nakamura notou que cada vez mais as pessoas diziam “estar deprimidas”, mesmo sem ter um diagnóstico médico. Notando os males que essa popularização do termo poderia causar, Nakamura desenvolveu, em sua tese de doutorado em Antropologia Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP), o tema Depressão na Infância: uma abordagem antropológica. Essa pesquisa visou retratar a distância entre o sentido médico/científico do termo “depressão” e o sentido popular, cunhado principalmente por meio da mídia. Outro problema que determinou a escolha do tema é o fato de a depressão infantil não ser sequer “diagnosticada” por ela mesmo, mas, normalmente, por familiares e parentes, distanciando o paciente, ainda mais, da própria doença.
Uma das maiores fontes desse problema, segundo Nakamura, é a necessidade que a grande imprensa teve em “traduzir esse termo científico”, de forma que ele ficasse acessível à população. Porém, a visão médica sobre o problema enxerga um mau funcionamento do organismo, isto é, a depressão é uma doença e, portanto, deve ser tratada. Já a visão popular é mais “híbrida”, conforme a tese, geralmente não sendo vista como doença, mas como proveniente de problemas de ordem social e familiar, onde a criança ficaria “insatisfeita diante da vida”.
Novos sentidos para o termo depressão
Durante a pesquisa, Nakamura notou dois principais modos como o termo “depressão” foi ganhando novos significados. O primeiro é “bricolage”, onde diferentes grupos sociais (médicos, jornalistas, famílias pobres, etc.) dão diferentes significados para o termo conforme lhes convém, conforme lhes é possível dentro das diferentes condições educacionais e sociais próprias. Outro modo é “síntese”, onde há a “possibilidade de conjunção de diferentes significados”, isto é, onde, no caso de uma criança, poderia se dizer que ela sofre de depressão tanto pelo fato de possuir a doença (visão médico/científica) como pelo de ter problemas de ordem social e familiar (visão popularizada).
Nakamura espera auxiliar médicos, psiquiatras e outros profissionais da área da saúde na hora do tratamento e da abordagem dos pacientes. Além disso, esclarecer qualquer interessado a respeito do sentido médico/científico, fazendo um alerta crítico tanto para a população quanto para a grande imprensa.
Mais informações: eunice_nakamura@hotmail.com