São Paulo (AUN - USP) - Com a chegada das chuvas, não são raras as notícias sobre desmoronamento de casas em encostas. Em uma cidade como São Paulo, que teve crescimento rápido e desordenado, as habitações construídas em áreas de risco ou em locais irregulares são sempre foco de discussão e brigas judiciais.
É um problema que faz parte da história do Brasil desde os tempos coloniais, quando foram registradas as primeiras mortes em razão de desmoronamento de casas em encostas. Um trabalho do Ministério das Cidades, divulgado em 2003, mostrou que há no país pelo menos 150 municípios com situações de risco em encostas habitadas.
No dia 30 de novembro, o pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Flávio Farah, foi o entrevistado em um bate-papo no site do IPT. Segundo Farah, é possível a construção em encostas, desde que elas estejam dentro dos padrões técnicos adequados, ou seja, que a habitação do local não cause riscos ou danifique o ambiente. Além de perigosas para as vidas humanas, as construções inadequadas em encostas podem provocar o assoreamento de rios e córregos por causa da erosão e do desbarrancamento.
No final do ano passado aconteceu, no IPT, o I Seminário Brasileiro Habitação e Encostas, que reuniu 150 profissionais da área. Eles formularam um documento, denominado Carta dos Morros, que foi encaminhado ao Ministério das Cidades. O ofício tinha a intenção de ajudar o Poder Público na tentativa de estabelecer políticas para eliminar o problema da ocupação desordenada das encostas.
Para Farah, coordenador do Mestrado Profissional do IPT “Habitação: Planejamento e Tecnologia”, São Paulo extrapolou os limites da natureza, mas ainda há conserto para o problema da cidade, desde que seja um trabalho feito por mais de uma geração. “Temos que consertar o que foi feito errado e ocupar corretamente o que ainda sobrou de terras não ocupadas”, afirma. Segundo Farah, o melhor é que sejam interrompidos os processos de ocupação desordenados, sendo planejadas ocupações restritas e controladas.
O problema em nosso país é cultural. O arquiteto afirma que persiste no Brasil a chamada cultura do mundo plano, ou seja, quando se tem um terreno acidentado, são feitos movimentos nele na tentativa de deixá-lo plano. “O ideal, como prevê nosso projeto, é que o urbanismo e as construções se adaptem à encosta”. Para Farah, este modelo já está esgotado em muitas de nossas cidades.
Ele aponta um local onde a ocupação em encostas foi feita de maneira ordenada e monitorada, o antigo Conjunto da Previdência, em São Paulo, “cujas unidades habitacionais foram projetadas considerando a acidentada topografia local”. No entanto, ele adverte que “poucos conjuntos mais recentes atendem satisfatoriamente as condições necessárias”.