Neste ano o país vem passando por um momento histórico, em diversos estados brasileiros a população saiu às ruas para reivindicar mudanças políticas. Na tentativa de fazer um balanço sobre os recentes acontecimentos, a Faculdade de Filosofia, História e Ciências Humanas (FFLCH) promoveu um debate sobre o assunto, no último dia 21 de junho. A mesa contou com o jornalista da Folha Marcos Nobre, o colunista da revista Forum Renato Rovai e o professor da FFLCH Pablo Ortellado. O professor da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP e jornalista Eugênio Bucci não pode comparecer ao evento, mas enviou uma carta para ser lida na palestra, e pode ser vista na íntegra aqui.
Rovai ressaltou a forte relação entre os protestos e as redes sociais, principalmente o Facebook. A partir de um sistema chamado Grafos, no qual são obtidos os principais assuntos que circulam na rede, foi analisado um banco de dados com 800 mil conversas do Facebook, e 20 milhões de frases do Twitter. Foi constatado que houve uma rápida mudança do assunto principal. Nos primeiros dias de protesto o foco dos assuntos estava relacionados ao aumento das tarifas do transporte público – causa encabeçada pelo Movimento Passe Livre (MPL). A partir da manifestação do dia 17, que reuniu mais de 300 mil pessoas por todo país, o foco das manifestações mudou. O assunto principal se tornou as causas defendidas por um suposto participante do grupo Anonymous, entre elas o fim da corrupção e uma reforma política. Outro fator levantado foi que após essas grandes movimentações nas mídias socias, os mesmos assuntos tomavam força nas ruas e encabeçavam as manifestações.
Segundo Marcos Nobre, é necessário entender as diferentes dinâmicas em cada local, e também analisar a forte interferência da mídia na formação da opinião pública, para tentar entender as fortes reclamações da sociedade em relação aos grandes veículos de comunicação da atualidade. A base governamental esteve aliada à opinião dos grandes veículos midiáticos brasileiros até o ano de 2002, quando o ex-presidente Lula assumiu o poder. As grandes emissoras de televisão e os grandes jornais foram então obrigados a promover uma certa abertura na abordagem do conteúdo. Além disso, nesse período houve a popularização da internet e das mídias socias, como o Orkut e Facebook, o que possibilitou que a sociedade não se pautasse apenas pela grande imprensa. Parte do que está acontecendo é, portanto, resultado desses fatores.
No debate ficou claro que ainda é impossível saber os caminhos e a duração desses protestos, assim como os futuros resultados deles. Mas, segundo os palestrantes, o que é possível constatar é que há um ponto de unidade entre todas as manifestações: o sistema atual é falho, e é preciso mudá-lo. A sociedade brasileira permaneceu calada desde o Impeachment de Collor, 21 anos atrás. É importante analisar os caminhos que essas manifestações estão tomando, mas uma certeza já é possível ter: se mudanças são necessárias, também é necessário sair às ruas para exigi-las.