Existe um mundo a ser mudado. É a partir desse pressuposto que Eric Hobsbawm (Historiador Marxista britânico – segundo muitos acadêmicos, o maior historiador do século XX) construiu sua narrativa em Como mudar o mundo” (How to change the world, 2011) – último livro escrito antes de sua morte, no ano passado. Nos últimos dias 13 e 14 de junho, aconteceu na FFLCH o lançamento dos três primeiros volumes da Coleção Memória Militante (Editora ComArte), e foi debatida a mais recente obra de Hobsbawm. No primeiro dia de lançamento, foi analisado o conteúdo de sua última publicação e a importância desta obra na historiografia mundial.
Em Como Mudar o Mundo o historiador analisa e faz uma pesada crítica ao modo capitalista de produção – reafirmando sua ideologia marxista – e discorre sobre a existência e queda do bloco Soviético, assim como a forma que o regime político criado por Karl Marx foi, e ainda é, implantado em diversas economias contemporâneas. Hobsbawm também analisa a forma com que o pensamento marxista é entendido na atualidade.
O historiador aponta a significante diferença entre as características do socialismo e comunismo da teoria presente no livro de Marx, e a forma com que ambas foram implantadas nos regimes que se caracterizavam como tal. Segundo Marcos Silva, professor do departamento de história da FFLCH, ao analisar a obra de Hobsbawm é possível concluir que “O socialismo e comunismo soviético não dizem respeito às propostas de Marx.”
Outro ponto analisado foi a ideia de que o Marxismo ainda é uma tarefa ainda a ser realizada. A mudança social não se constrói através da obediência à uma ortodoxia – segundo Hobsbawm, foi o que aconteceu nos regimes socialistas e comunistas do século XX – mas é, na verdade, uma invenção a favor e pela maioria da população. A revolução então é liderada pelas pessoas, e não pelo estado. Hobsbawm também afirma que a história do século XX está inteiramente ligada ao fracasso na tentativa de construção do socialismo. Esse fracasso, portanto, teria apenas fixado a economia capitalista, e enraizado suas características na sociedade contemporânea.
Segundo Lincoln Secco, professor do departamento de História da USP, Hobsbawm possuía uma das principais características dos historiadores marxistas: uma ambição da totalidade – quando outras ciências são também analisadas para a construção da teoria histórica. Sua obra constantemente associava a periodização da história econômica com a história política e social, e dizia que grandes mudanças econômicas estavam relacionadas a grandes manifestações populares.