ISSN 2359-5191

03/09/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 63 - Saúde - Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Crack mata mais neurônios que outras formas de uso de cocaína
Pesquisa da FCF constata que 50% a mais destas células são destruídas com a droga fumável
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

O crack é feito à base de cocaína, mas seus efeitos são muito mais devastadores para a saúde do dependente. Isto porque sua forma de uso implica submeter pasta bruta da cocaína a altas temperaturas, ou seja, realizar a pirólise. Este processo leva à liberação do éster metilecgonidina, ou Aeme, que degenera 50% mais neurônios do que no uso da cocaína por via nasal ou injetável. Estas conclusões foram apresentadas pela professora Tania Marcourakis, do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP em palestra para alunos de pós-graduação, no último dia 20 de agosto.

Quando deseja-se saber se uma pessoa consumiu crack, são feitos exames para detectar a presença de Aeme, o que significa que o éster é um marcador biológico. No seminário “Crack: muito além da cocaína”, Tania apresentou resultados de pesquisas que orientou recentemente, com objetivo de saber se, além de ter esta função, a substância contribui com a toxicidade da droga. Os estudos foram feitos in vitro — fora de sistemas vivos — e tentaram detectar o que acontece com os neurônios de ratos quando em contato com o Aeme e a cocaína, juntas e separadas.

O nome provocativo do seminário, segundo Tania, não foi dado à toa. Um atual aluno de doutorado da FCF, Raphael Caio Tamborelli Garcia, concluiu em seu mestrado que a associação das substâncias presentes no crack destrói os neurônios em quantidade 50% superior à cocaína de forma isolada. Além disto, Livia Mendonça Munhoz Dati constatou em sua pesquisa, também orientada por Tania, a diferença entre o modo como o neurônio morre quando usa as duas drogas.

Foi atestado, então, que a associação entre Aeme e cocaína provoca, além da necrose, mais um tipo de morte celular: a apoptose. Isto porque, durante os estudos, houve indícios de uma “morte mais mitocondrial, que não tem perda da integridade da membrana”, afirma Tania. A necrose ocorre quando a membrana que envolve a célula se rompe após um inchaço, enquanto a apoptose consiste em uma morte programada, levando a célula a desaparecer.

A pesquisa

O estudo foi feito com uma cultura primária de hipocampo, retirada de fetos de ratos. O hipocampo é a principal estrutura cerebral associada à memória. Segundo Tania, “muitos trabalhos em humanos mostram que esses usuários têm problemas cognitivos”. As células eram colocadas em contato com diferentes doses de cocaína, Aeme e ambas as substâncias.

Tania conta que foi difícil obter as substâncias para pesquisa, já que o comércio de cocaína está associado ao crime organizado. Foi necessário, então, obter autorização judicial para requisitar ao Núcleo de Exames de Entorpecentes da Polícia Científica quantidades da droga que o órgão não utilizaria em seu trabalho. Mesmo com a substância em mãos, foi necessária a síntese do Aeme.

O doutorado de Garcia está sendo realizado por um método diferente do mestrado. Desta vez, as pesquisas são in vivo, ou seja, testam os efeitos da droga no comportamento de animais. Deste estudo, veio a confirmação de que “o animal que recebeu as duas substâncias de uma vez andou mais do que aquele que recebeu só cocaína”, segundo Tania. Também foi comprovado um aumento na dopamina liberada pelos ratos quando expostos às duas substâncias do crack, em relação às drogas isoladas. A dopamina está relacionada com os sistema de recompensa, motivação e prazer.

Mais informações: tmarcour@usp.br

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