ISSN 2359-5191

08/12/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 22 - Educação - Instituto de Química
Pesquisador propõe uso da História da Ciência para melhorar ensino de Química
Conhecer o processo de criação dos conceitos ajudaria na assimilação dos conteúdos

São Paulo (AUN - USP) - Contas e fórmulas para decorar: essa é a imagem que muitos estudantes do Ensino Médio fazem da aprendizagem das ciências da natureza em geral, e da química em particular. Receber estas fórmulas prontas para aplicar, sem passado e sem contexto, desconectadas do mundo real, faz com que os alunos imaginem o trabalho do cientista como aplicação mecânica de conhecimentos dados, sem lugar para o exercício da criatividade, e a própria ciência como verdade absoluta e imutável. É este o quadro que a pesquisa do professor Paulo Alves Porto, do Instituto de Química (IQ-USP), busca reverter.

Para o pesquisador, a Química, assim como as demais ciências, têm um importante papel na formação dos estudantes e de sua capacidade de compreender o mundo em que vivem. Sua principal proposta para melhorar o aprendizado de tais disciplinas, especialmente no Ensino Médio, é a ênfase na História da Ciência, que, relacionando-se com os campos de humanidades e explicitando as ligações entre a produção científica e seu contexto social, levaria o aluno além da memorização de conteúdos e o ajudaria a ver a ciência como um processo permanente de construção, bem como entender sua influência no mundo atual.

A respeito da polêmica questão do ensino ou não de idéias que não fazem mais parte do conhecimento científico, o professor diz que, a despeito do risco de causar confusão entre os alunos, tais teorias devem ser abordadas em sala de aula. Ensinar apenas o que “deu certo”, para ele, apresenta a ciência como dogmática, o que contraria sua essência de abertura à crítica e reformulação. Para mostrar como o processo científico se constrói, ele sugere que se ensinem idéias interessantes e bem recebidas em sua época, como ela se adequava àquele contexto, e como, posteriormente, foi questionada e reformulada. Por extensão, mostra-se também que o conhecimento atual é o melhor que temos, mas não necessariamente definitivo.

Também na formação superior de cientistas é necessário enfocar a história e filosofia das ciências, embora Porto ressalve que uma formação sem seu estudo detido pode ser extremamente eficiente. Mesmo sem ler os pensadores clássicos de sua área, um cientista pode obter excelente treinamento dentro do paradigma vigente. O risco, alerta, é a perda de vista da novidade, do potencial revolucionário que pode vir de um fenômeno “anômalo”. Entre as dificuldades para a implantação de estudos históricos e filosóficos mais aprofundados estão, segundo ele, uma certa resistência às humanidades, e o desenvolvimento e institucionalização muito recentes do campo da História da Ciência no país, ainda pouco difundido tanto entre leigos quanto entre os próprios cientistas. No entanto, os dilemas cada vez mais complexos que exigem crescente reflexão interna à ciência, em especial na área de bioética, têm gerado interesse pelas diretrizes que tais estudos podem oferecer.

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