São Paulo (AUN - USP) - Desde dos anos 80, o automóvel está modificando a cara de São Paulo. Não apenas o veículo, mas toda “a cultura automobilística” gerada por ele, que rompe o quadro de interações sociais do paulistano”. Estas são palavras de Jaime Tadeu Oliva, que, em sua pesquisa de doutorado em Geografia Humana pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP), O automóvel particular como elemento constitutivo e constituidor da cidade de São Paulo, mostra como os carros são instrumentos que propiciam o isolamento social na cidade de São Paulo, inclusive e principalmente, próximo às regiões centrais que são, teoricamente, mais populosas.
Redes geográficas
Esse processo, segundo Oliva, é responsável pela formação das chamadas redes geográficas, estruturas urbanas relativamente isoladas e praticamente auto-suficientes. Por exemplo, o cidadão que vai de seu condomínio para o local de trabalho, depois para o shopping, sempre por meio do veículo, isto é, sem interagir nos espaços públicos. Este cidadão utiliza os meios públicos apenas como trajetória entre os locais privados onde freqüenta.
Oliva demonstra essa especificidade que é quase exclusivamente paulistana, comparando a estrutura social da cidade com a de outras grandes capitais ao redor do mundo. Nestas outras, a presença de subúrbios (bairros residenciais de baixa densidade) se dá apenas longe dos centros. No caso da capital paulista, esse isolamento não é completo, pois esses “bairros suburbanos” estão localizados junto ao centro da cidade.
Essa estrutura de São Paulo, repleta de redes geográficas muito próximas ao centro, é composta por uma densidade heterogênea, onde há indivíduos espacialmente isolados, mesmo morando no coração da cidade. A presença não organizada das redes geográficas causa problemas na circulação viária próximas a ela, pois, estando muito próximas ao centro, dificultam o grande fluxo de veículos na região central, inclusive de ônibus.
Além disso, Oliva exemplifica esse processo em bairros como Vila Madalena e Vila Olímpia. Em ambos os bairros, apesar de possuírem grande circulação, transitar só pode ser feito quase que exclusivamente por meio de veículos privados, fazendo-se necessária a criação de grande número de estacionamentos na região. Outro exemplo dado por Oliva é o Shopping Anália Franco, na zona leste de São Paulo, onde até mesmo “a arquitetura do estabelecimento dificulta a presença de pedestres”.
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