Às vésperas do Brasil sediar grandes eventos esportivos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP promoveu um evento para tratar de um assunto que há anos é marginalizado no meio esportivo: a homoafetividade.
O evento, que aconteceu no mês agosto, foi organizado pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre o Futebol e Modalidades Lúdicas (Ludens), contou com a participação do pesquisador de pós-doutorado Wagner Xavier de Camargo, da UFSCAR, e da mestranda Giovana Capucim, da FFLCH, para ministrar uma palestra sobre as relações que se estabelecem entre os chamados Jogos Gays e a repressão que ocorre no ambiente esportivo atual.
O que são os jogos gays?
Originalmente chamado de Olimpíadas Gay, os Jogos Gays (Gay Games, em inglês) correspodem ao maior evento cultural e esportivo voltado somente para atletas, artistas, músicos e outras pessoas associadas ao mundo LGBT. E, embora seja um evento voltado ao público gay, não há restrições quanto a participação de héteros.
Para se inscrever em qualquer modalidade esportiva não existem padrões de qualificação, com exceção de esportes que exigem atestado médico para comprovar que o atleta esteja apto para aquela modalidade, como levantamento de peso, por exemplo.
De acordo com Wagner, esses jogos tentam organizar um espaço de sociabilidade diferenciado que traga outra sexualidade que não a heterossexualidade. “É um espaço político de prática esportiva, mas também é um espaço de socialização, de festividades, de reencontros, de força identitária, que celebra uma identidade, em que você conhece pessoas de outras etnias e localidades”, afirma o pesquisador.
Homofobia nos esportes
Recentemente, o meio esportivo foi posto em xeque quando Emerson, jogador do Corinthians, postou uma foto em uma rede social na qual ele aparecia beijando outro homem. O assunto virou polêmica e, ainda que a foto tenha sido para levantar o debate, segundo disse o jogador, as repercussões foram negativas. “Emerson teve que se retratar e pedir desculpa para a torcida e ‘Nação corinthiana’”. Para Giovana, esse comportamento só comprova a hierarquia que se constrói do homossexual como um indivíduo menos importante, inferior, e que deve ser execrado do espaço do futebol.
De acordo com Giovana, o controle do clube do atleta sobre seu corpo e desempenho independe da sexualidade, embora fique mais rígido nesses casos. “O controle sobre o corpo do atleta vai ser extremamente rigoroso ao que diz respeito à sexualidade. É aceitável o jogador sair com prostitutas ou até mesmo travestis, como foi o caso do Ronaldo Fenômeno. Mas ser gay, não”, afirma Giovana. “Ao fazer isso, esses jogadores estão negando a masculinidade que é inerente ao esporte. Como você pode ser um profissional, de alto rendimento, representar um clube e ser homossexual? Essas diferenciações e particularidades não se encaixam para alguns torcedores.”
Entretanto, não é somente no futebol que há exemplos de homofobia. L. H, calouro do curso de História da USP e membro da seleção brasileira de Kung Fu, afirma que não só no futebol, mas como no meio esportivo, como um todo, impera o comportamento heteronormativo. O próprio rapaz afirmou durante a palestra que ainda não se declarou homossexual na seleção por medo de represálias que vem ocorrendo com diversos atletas nesse meio.