São Paulo (AUN - USP) - Um CD-R (disco compacto gravável) pode ter mais utilidades do que costumamos imaginar: armazenar músicas, programas de computador e detectar metais na água. A nova função, criada pelo professor Lúcio Angnes, do Instituto de Química (IQ) da USP, torna o monitoramento de metais na água bem mais barato que as técnicas usadas até então. O CD, que possui um fino filme de ouro, funciona, após algumas adaptações, como um sensor eletroquímico capaz de medir quantidades muito pequenas de chumbo, mercúrio, cobre, entre outros metais. Cada sensor, descartável, sai por 20 centavos, enquanto que o sensor de ouro importado, usado anteriormente, custava 200 dólares (cerca de 600 reais).
Além de metais, os CDs podem detectar outros tipos de substâncias, e já estão sendo testados para análises dos princípios ativos de fármacos, como a vitamina C, a dipirona e o paracetamol. Esses discos, com filme de ouro, não são mais fabricados no Brasil, foram substituídos pela prata, por isso eles são importados, “mas ainda assim seu custo é baixo, porque de cada CD podemos fazer 40 ou 50 sensores”, explica o professor. O CD de prata também pode ser usado para algumas dessas análises, nas quais sua eficiência é boa, como na de chumbo.
Metais na Guarapiranga
Foi utilizando essa técnica que o monitoramento da água da represa Guarapiranga e da chuva em São Paulo pôde ser feito com um baixo custo na pesquisa de doutorado de Eduardo Mathias Richter. Em sua análise da água de cinco córregos que abastecem a represa e do lugar onde a Sabesp faz sua coleta, ele descobriu três substâncias químicas com concentrações maiores do que as permitidas na Legislação Brasileira: o cobre, o fosfato e o amônio. Além do amônio ser prejudicial para os peixes, causando sua morte por asfixia, há o risco de transformar-se em amônia, que é mais perigosa. O fosfato, que se encontra nos detergentes e nos sabões em pó, leva à proliferação das algas na represa. Para evitar esse crescimento exagerado, que prejudica a qualidade da água, a Sabesp adiciona um sal à base de cobre na água. “É uma medida necessária para evitar um problema maior, mas o cobre também pode ser prejudicial para os peixes da represa e para a população que se alimenta deles”, explica Eduardo. Os peixes acumulam cobre e, se as pessoas os consumirem com freqüência, podem sofrer uma intoxicação muito difícil de ser identificada.
O fosfato e o amônio foram encontrados em concentrações maiores em dois córregos. A represa só não é mais prejudicada porque seus demais afluentes têm uma qualidade de água melhor. O cobre, que foi encontrado principalmente nas regiões próximas à captação da Sabesp, passa por vários processos no tratamento da água em que é minimizado. “Essa água é monitorada, mas precisaria existir um maior número de análises, para as quais o baixo custo seria um grande atrativo”, diz Eduardo. E a própria Sabesp e a Cetesb não utilizam os sensores e equipamentos desenvolvidos no Brasil para detectar metais.
Chumbo e cobre na chuva
Pelo mesmo método de análise, com os CDs de filme de ouro, Eduardo detectou altas concentrações de cobre na água da chuva de São Paulo. Mais do que as indústrias, os grandes responsáveis por essa poluição são os automóveis. “Os carros, assim como as indústrias, possuem filtros e sua emissão de gases diminuiu, o grande problema ainda é a enorme quantidade de veículos que circulam diariamente em São Paulo”, explica Eduardo Richter.
O chumbo, que é mais tóxico, também foi encontrado nessa água, porém em menores quantidades. A estação do ano e o período em que a análise é feita também influem muito, “quando estudamos a água da chuva depois de um longo período sem chover, as concentrações de substâncias tóxicas são bem maiores”, completa o professor Lúcio.
Um outro equipamento desenvolvido no Brasil pelos professores do Instituto de Química Claudimir do Lago e José Alberto Fracassi da Silva também foi utilizado por Eduardo Richter na análise da água da represa Guarapiranga. Doze substâncias químicas diferentes, entre as quais o amônio e o fosfato, foram monitorados a um custo bastante reduzido graças a ele.
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