São Paulo (AUN - USP) - A importância do filósofo judeu Maimônides (1135-1204) para a cultura medieval e judaica é bem conhecida. Entretanto, são poucas as pessoas que sabem que ele também desenvolveu estudos nas áreas de medicina, educação e religião. “É fundamental mostrar o peso de Maimônides dentro da cultura judaica e fora dela, como pensador universal”, afirmou Moacir Amâncio, professor de Hebraico do Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP).
Um encontro realizado no começo do mês, em memória dos 800 anos de morte do rabino Moshe Ben Maimon, procurou expor, de maneira mais abrangente, a obra desse grande pensador. Organizado pelo programa de Hebraico da FFLCH, o evento contou com a participação de acadêmicos e especialistas de outras áreas, que apresentaram outros aspectos da produção do Rambam, como também é conhecido o pensador.
O professor Nachman Falbel discorreu acerca da filosofia de Maimônides, ressaltando seus aspectos fundamentais. Ele demonstrou sua importância para a religião judaica e sua influência na cultura medieval, que se espalhou através dos tempos.
Ester Barzelai Barocas, que cursa doutorado na FFLCH, apresentou um ensaio sobre o pensador israelense Ieshaiahu Leibovitz, aprofundando-se num quadro do conceito judaico de fé – no qual o Rambam é fundamental hoje em dia.
O rabino Samuel Pinto tratou da aplicação dos conceitos de Maimônides à educação e foi seguido pelo médico Francisco Moreno de Carvalho, doutorando pela Universidade Hebraica de Jerusalém, que expôs um pouco dos estudos médicos e científicos do pensador.
O ciclo de palestras foi encerrado pela conferência do monge Benjamin, da Ordem de São Bento. O religioso falou sobre a influência do Rambam no pensamento de outro gigante medieval, São Tomás de Aquino. “Em sua obra inteira, Maimônides se preocupou em transpor a filosofia aristotélica para o judaísmo. Concordando teologia e filosofia, o rabino demonstrou que a Bíblia e a ciência eram conciliáveis e deveriam ser harmonizadas”, analisou Saul Kirschbaum, professor de Cultura do Povo Judeu na Idade Média, da FFLCH. “Seu trabalho foi paralelo com o de São Tomás, que procurou aplicar Aristóteles ao catolicismo”, concluiu.
Outro ponto importante do evento foi mostrar um pouco mais da biografia do rabino. “Um grande pensador, religioso e médico, Maimônides também tinha uma personalidade rica”, informou Amâncio.
As informações exibidas no encontro podem ser complementadas pela leitura de publicações como a Coleção Judaica, da editora Perspectiva, e também pela obra máxima de Maimônides, o Guia dos Perplexos, já editada em português com tradução de Uri Lam.