A Micropaleontologia aplicada à Indústria do Petróleo foi o tema desenvolvido por Henrique Lima, especialista em Bioestratigrafia e Paleoecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A palestra fez parte da VI Fenafeg (Feira Nacional de Fornecedores e Empresas de Geologia), realizada de 20 a 23 de agosto no Instituto de Geociências (IGc) da USP. O ciclo foi organizado pela Geojúnior, empresa júnior do IGc.
A bioestratigrafia trata-se, de modo simplificado, de um método de datação relativa que determina a idade de uma camada geológica a partir das espécies fósseis encontradas nelas. Essa datação é feita por intermédio da chamada correlação geológica, ou seja, a correspondência entre camadas de rochas sedimentares. Um dos conceitos-base para essa análise é o princípio da sucessão faunística (ou princípio da correlação estratigráfica), criado pelo geólogo William Smith no final do século 18. O princípio determina que os conjuntos de estratos do globo que detém as mesmas associações de fósseis têm a mesma idade, uma vez que o registro geológico seguiria uma mesma ordem, determinada e invariável. Conhecida essa ordem de deposição, pode-se determinar o período em que foi formado a partir dos grupos fósseis neles encontrados. Postulado que os encontrados em uma camada não se repetem em outras, é possível comparar camadas geograficamente distantes.
Como lida com microfósseis (esqueletos de organismos protistas como os foraminíferos e as diatomáceas, conchas de animais microscópicos como os conchostráceos e os micromoluscos, entre outros) a micropaleontologia é vantajosa nessa análise uma vez que, de acordo com Henrique Lima, em uma pequena amostra de rocha pode ser encontrada grande variedade geológica. A identificação do microfóssil é feita a partir da análise da composição de sua parede, que pode ser orgânica, carbonática, silicosa ou fosfática. Sucede-se à identificação o mapeamento dos grupos pelo globo. Hoje se tem mapeado os tipos de microfósseis e onde ocorrem, o que viabiliza o trabalho da bioestratigrafia.
Na indústria do petróleo ela se torna uma ferramenta de diminuição de custos, dado que a análise bioestratigráfica é muito barata em comparação com os lucros que podem ser gerados com a produção de hidrocarbonetos. Uma análise bioestratigráfica de US$ 16 mil pode aumentar as chances de sucesso de uma jazida com lucro de US$ 10 mi. “As companhias, quando necessário, mandam bioestratígrafos para o poço e à medida que a amostra vai sendo coletada, vai sendo tratada e isso tem um impacto”, diz Lima. Seu papel na exploração e produção de petróleo está relacionado ao mapeamento de biofacies (unidade de rocha com um conjunto de fósseis característico de certo local), correlação de alta resolução, biosteering (orientação do poço à medida que está sendo perfurado) e caracterização de reservatórios, que otimizada a recuperação e o desenvolvimento de cada reservatório e proporciona correlações precisas entre as facies (conjunto de elementos litológicos e paleontológicos de uma unidade estratigráfica), nas palavras de Lima.
Henrique Lima ainda falou sobre micropaleontologia forense dando como exemplo um caso específico da Petrobras, para onde trabalha. Lima corrigiu uma informação errônea amplamente difundida pela mídia: a presença de fósseis em uma camada geológica não indica a ocorrência de hidrocarbonetos no local, ao contrário do que é em geral colocado em reportagens de ciência. De acordo com ele, para que possa haver a formação de petróleo é preciso, basicamente, a presença de rochas geradoras (que armazenam matéria que pode se transformar em petróleo) e rochas reservatório (com espaços para a deposição do óleo).