ISSN 2359-5191

15/10/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 81 - Educação - Faculdade de Educação
Professora australiana propõe alteração nos estudos de gênero nos países do Sul
Para a especialista, diferenças religiosas e de posse de terra devem ser consideradas nas pesquisas sobre o feminismo

Mapa mostra a produção de conhecimento nos países do globo
Mapa mostra a produção de conhecimento nos países do globo

A pesquisadora australiana Raewyn Connel, professora da Faculdade de Educação e Serviço Social da Universidade de Sydney e convidada para apresentar sua teoria na Faculdade de Educação da USP no dia 27 de agosto, propõe uma mudança de paradigma em relação aos estudos de gênero e feminismo feitos nos países do Sul, muitos em desenvolvimento. Segundo ela, devemos considerar as questões que integram nossa realidade e não mais exportar correntes de pensamento europeias ou norte-americanas.

Conforme o conteúdo apresentado na palestra “Descolonizando o Gênero: teorias de gênero ao sul do globo no século XXI”, Raewyn aponta a discrepância percebida na quantidade de publicações acadêmicas dos Estados Unidos, Inglaterra e outros países da Europa se comparadas às outras regiões do globo. Afirma, ainda, que o imperialismo europeu criou uma divisão em que o Norte produz conhecimento e o Sul, dados.

Quanto às teorias de gênero, Raewyn conclui que os estudos produzidos no Norte incentivam a questão da identificação, aspecto que existe no Sul, mas não necessariamente domina nossa agenda. Citando a clássica pensadora francesa Simone de Beauvoir e a contemporânea norte-americana Judith Butler, a professora explica que as teorias produzidas por elas são válidas, mas partem de suas próprias experiências, abordando uma realidade muito particular. É necessário, portanto, que se criem estudos sobre feminismo e manifestações de gênero que levem em conta o contexto sócio-cultural e as particularidades dos países do Sul global.

A professora nomeia quatro pontos essenciais que diferem os dois eixos do globo nos estudos de gênero e que precisam ser considerados primordialmente: violência constitutiva de gênero, relação das políticas públicas do Estado voltadas para a área, relação da mulher com movimentos organizados pela posse de terras e a questão da influência de correntes religiosas.

Embora tenhamos muito onde avançar, o cenário é otimista, afirma Raewyn, que exemplifica as mudanças com grandes nomes atuantes na área, como Fatema Mernissi (Marrocos), Bina Agarwal (Índia) e Robert Morrell (África do Sul). A partir dos estudos de gênero feito por esses autores, conclui-se que há uma verdadeira revolução na área, uma vez que se abrange as diferenças de cada região e contribui-se para uma abrangência mais diversificada de pensamento.

Raewyn deseja que haja “uma estrutura de conhecimento que não mais tenha o Norte global como uma fonte privilegiada de conhecimento”, mas que busque construir “uma democracia do conhecimento global”, onde haja uma espécie de negociação entre conhecimentos produzidos em diversas partes do mundo. Os argumentos que possibilitam essa nova estrutura podem ser encontrados no livro da teórica feminista australiana Chilla Bullbeck, Re-Orienting Western Feminisms (Reorientando os Feminismos Ocidentais).

De acordo com a pesquisadora, as fontes de recursos são abundantes. Movimentos feministas, gays e transgêneros, além de ongs e agências do Estado com programas voltados para questões de gênero, incluindo fóruns internacionais, fornecem um vasto embasamento para que as teorias sejam desenvolvidas e aprimoradas daqui pra frente.

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