ISSN 2359-5191

16/10/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 82 - Ciência e Tecnologia - Escola de Comunicações e Artes
Tablets e smartphones ainda não são bem utilizados no Jornalismo
De acordo com a pesquisadora, a cada 10 brasileiros, 7 têm aceso à internet e estão conectado ao menos uma vez por dia.

“Hoje nenhum veículo jornalístico utiliza bem a segunda tela”. É o que diz Daniele Rodrigues, mestranda da linha de pesquisa em Comunicação e Ambiências em Redes Digitais e autora da pesquisa Produção de sentido na convergência TV e Second Screen (“segunda tela”, em inglês). A pesquisa, ainda em andamento, integra o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes (ECA), da USP.

Segundo Daniele, a “segunda tela é um outro ambiente de significação que é pensado e estruturado para dialogar com a interface principal” - ou seja, a segunda tela é um instrumento no qual circulam informações que estão ligadas a um outro aparelho.

Um bom exemplo de como a segunda tela está presente na vida das pessoas é o hábito cada vez mais comum do público comentar, via redes sociais como o Facebook e o Twitter, o que está sendo exibido na televisão. Nesse caso, o computador, o tablet, ou o smartphone, utilizado pelo espectador enquanto ele vê o programa de TV, configuram os aparelhos da segunda tela. “As pessoas já fazem isso quando assistem a um jogo, ou a um filme. Elas ficam tuitando [falando sobre o assunto no Twitter]. Os jornalistas precisam fazer isso com as notícias”, afirma. Além da mudança de plataforma, a pesquisa buscou também avaliar o novo modo de produção que o mecanismo da segunda tela exige.

Para que um conteúdo realmente possa configurar uma produção de segunda tela ele precisa ser criado intencionalmente como um produto secundário, que faz referência a um conteúdo principal que está na primeira tela. A segunda tela pressupõe intencionalidade na criação: “Deve ser produzido um conteúdo específico que faça sentido com outro conteúdo também específico. Tem que ter algo de diferente da primeira tela e fazer referência a ela”. Assim, muitos jornais que apenas republicam suas matérias impressas em versões digitais, ou disponibilizam vídeos de matérias já exibidas na televisão, não estão utilizando o mecanismo da segunda tela. Estão apenas repetindo o mesmo material em múltiplas plataformas.

De acordo com a pesquisadora, a cada 10 brasileiros, sete têm aceso à internet e estão conectados ao menos uma vez por dia. Logo, os incentivos na área são justificados. Afinal, os dados mostram que o público consumidor existe, e que “se um conteúdo interessante e de qualidade for criado em uma quantidade considerável haverá consumo”, afirma Daniele.

A segunda tela não tira a atenção da primeira

Há quem argumente que o espectador, ao dirigir sua atenção a um outro dispositivo que não a televisão, pode acabar distraindo sua atenção apenas para a segunda tela - o que prejudicaria a televisão. No entanto, como indica Daniele, “existem pesquisas que indicam que o interesse das pessoas no programa da primeira tela aumentou quando elas utilizam o mecanismo da segunda tela”.

O que acontece: o espectador que está assistindo à televisão e, simultaneamente, está buscando coisas adicionais relacionadas ao que se passa na primeira tela. Ou seja, o espectador se torna co-produtor do programa da televisão, tornando-o mais interessante para si mesmo. “Não existe essa briga pela atenção, pelo contrário, acontece uma soma. O fato do espectador consumir na segunda tela informações sobre o programa da televisão funciona mais como uma motivação. Afinal, o conteúdo exclusivo da segunda tela só faz sentido se o espectador vê o programa na televisão”, afirma a pesquisadora.

 

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