Estudo relaciona os aspectos evolutivos do gênero Piper, o mesmo da pimenta-do-reino e da pariparoba, com os seus metabolismos a partir da construção de uma árvore filogenética, representação gráfica das relações evolutivas entre vários seres que possam ter um ancestral comum. A tese de doutorado de Nídia Yoshida, realizada no Laboratório de Produtos Naturais do Instituto de Química (IQ) da USP, conseguiu direcionar as análises e a busca por moléculas ativas dentro desse gênero.
Moléculas ativas, que também podem ser chamadas de metabólitos secundários, são compostos orgânicos que não estão diretamente envolvidos nos processos de crescimento, desenvolvimento e reprodução dos organismos, entretanto, sem eles a sobrevivência, a fecundidade e outros fatores são comprometidos. A sua importância está no fato de que “a maioria dos compostos de plantas que tem atividade biológica para nós pertencem a esse grupo”, explica Nídia.
Durante a realização desse modelo, uma espécie que se destacou foi a Piper solmsianum, por produzir uma substância denominada de grandisina. Ela possui diversas aplicações, como o controle do mosquito da dengue e do protozoário causador da doença de Chagas, e também propriedades anti-inflamatórias.
Para melhor estudar esse composto, a pesquisadora também estabeleceu a variabilidade genética e química da espécie em questão, de modo a perceber que as duas se correspondem. “Isso é importante porque permite a seleção de populações que produzam o composto ou não”, ressalta. Também foram estudados os aspectos relacionados à biossíntese – produção de compostos químicos complexos em organismos vivos – das lignanas, classe a qual pertence a grandisina, com a utilização de ferramentas da biologia molecular, como as enzimas que podem controlar reações específicas durante a biossíntese da grandisina e de outras lignanas.
A pesquisa foi realizada a partir da análise filogenética, no caso do modelo criado, com a finalidade de utilizá-lo como base para a reconstrução dos caracteres químicos. Primeiramente, é feita uma análise de uma região do DNA. Com essa informação, pode-se montar uma árvore filogenética, a fim de ver a história evolutiva do grupo. Como esclarece Nídia, “posteriormente, há outra abordagem chamada de reconstrução de caracteres químicos, que vai usar essa árvore para mapear e estudar a distribuição dos compostos nas espécies”.
O estudo de produtos naturais sempre teve destaque desde o início da química. Compreender as propriedades das plantas, e com que intuito pode-se usá-las para benefício humano é tema de grandes pesquisas até hoje. “Esse conhecimento vem sendo adquirido ao longo de milhares de anos, e cabe a essa área estudar as plantas que apresentam atividades biológicas interessantes, quais são responsáveis pela produção dos metabólitos e como podemos manipulá-los, para que os pesquisadores possam direcionar a busca pelos compostos de interesse”, conclui a pesquisadora.