ISSN 2359-5191

31/10/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 90 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Pesquisa analisa transformações e desigualdades na metrópole
Imagem da cidade de São Paulo

São Paulo sempre se caracterizou por sua dinâmica, mas o período decorrido desde a redemocratização do país trouxe intensas transformações políticas, econômicas, sociais, demográficas e espaciais que alteraram a  estrutura organizacional e geográfica da metrópole.

O livro São Paulo no século XXI: Permanências, Transformações e Desigualdades na Metrópole realiza um exercício analítico focado nas principais alterações das últimas décadas, com  base nos Censos de 1991, 2000 e 2010. A pesquisa foi feita pelo Centro de Estudos da Metrópole (CEM), centro interinstitucional com participação da Faculdade de Filosofia, Letras e  Ciências Humanas (FFLCH) e financiamento da Fapesp e do CNPq. “O objetivo do livro é analisar esses processos em detalhes, em especial as transformações sócio-espaciais dos últimos 20 anos,construindo um retrato de São Paulo no início dos anos 2010”, explica o organizador do livro e professor  livre-docente do Departamento de Ciência Política, Eduardo Marques.

Mudou por quê?

A pesquisa visa investigar em um primeiro momento as dimensões das mudanças recentes, incluindo as transformações econômicas e da estrutura social, assim como o mercado de trabalho, a pobreza, as dinâmicas migratórias e ligadas ao crescimento demográfico. Além disso, foi investigado também os padrões de segregação por classe e raça, as condições urbanas, a habitação precária, a produção habitacional pública e via mercado e a mobilidade urbana.

De acordo com Marques, são muitas as mudanças vivenciadas pela metrópole no período analisado. A versão mais comentada dessas transformações diz respeito ao crescimento do setor terciário e a redução relativa do secundário, assim como ao crescimento da pobreza nos 1990 e à sua redução nos anos 2000, mas muitas outras transformações se fizeram presentes na estrutura social, na ocupação dos espaços e na segregação social, entre  outras. “Nos anos 2000, por sua vez, algumas  dessas tendências se inverteram, com melhora do mercado de trabalho, da renda e da pobreza”, explica.

Manutenção da segregação

O pesquisador chama a atenção para as mudanças dos padrões de aumento demográfico que ocorreram na  terra da garoa e como isso afetou as estruturas sócio-espaciais da cidade. Em algumas áreas periféricas, continuou a ocorrer intenso aumento da população, exigindo, segundo Marques, um aumento equivalente nos serviços direcionados à população, como educação, saúde e moradia. Como isso nem sempre acontece, já que muitos desses serviços ficam isolados nas regiões centrais, dificultando o acesso de camadas periféricas. “As vias de acesso a serviços continuaram a melhorar, inclusive nas favelas, mas ao invés de uma convergência para certas condições, é possível observar vários tipos de situações, localizadas espacialmente”, argumenta Marques.

Assim, embora a cidade tenha se tornado menos desigual com um aumento de postos de atendimento à população, ainda permanecem padrões importantes de desigualdade na distribuição territorial.  

A solução, para o pesquisador, é procurar entender a cidade de forma atualizada, para que assim seja possível promover políticas adequadas, como a revisão de toda a legislação urbanística. “O ponto crucial dessa integração diz respeito à consideração de um diagnóstico (e um mapeamento) comum sobre estrutura social a partir do qual os processos específicos são analisados.”, revela. “Por isso que a pesquisa é relevante, porque contribui para a construção de uma cidade melhor e mais justa”, completa.

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