ISSN 2359-5191

31/10/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 90 - Educação - Faculdade de Educação
Maculelê nas quadras: a importância do currículo cultural na Educação Física
Grupo da FEUSP considera a importância de ir além das quatro modalidades básicas de esporte
Fonte: Frank Dowes/Wikimedia Commons

O aspecto heterogêneo da composição das salas de aula tem ganhado cada vez mais importância nos estudos pedagógicos. No campo da educação física, os diferentes repertórios de cultura corporal dos alunos trazem a necessidade de se discutir um currículo escolar que promova o reconhecimento de aspectos variados, e não só das modalidades hegemônicas.

É o que apontam os vários estudos do Grupo de Pesquisas em Educação Física Escolar da Faculdade de Educação da USP (FEUSP), coordenado pelo professor Marcos Neira, que acaba de concluir o artigo “O currículo cultural da Educação Física: uma resposta aos dilemas da contemporaneidade“. Os pesquisadores investigam a variedade das práticas corporais pelas vias do multiculturalismo e intencionam fornecer aos alunos as bases de compreensão de uma sociedade mais ampla.

“O professor precisa elaborar uma proposta de ensino que contemple essa variedade”, afirma Neira. “Se ele só ensina vôlei, handebol, basquete e futebol, está sempre priorizando uma parcela da cultura, porque essas quatro modalidades foram produzidas pelo mesmo grupo cultural”. Ao levar para o ambiente de aula brincadeiras, danças, lutas, esportes e ginásticas comuns a grupos sociais historicamente marginalizados, o docente de educação física promove uma visão mais plural sobre o meio em que os alunos estão inseridos.

Neira usa de exemplo práticas como funk, rap, skate, parkour, hip hop, carrinho de rolimã, baralho, maculelê e capoeira. Muitas delas já fazem parte do repertório dos alunos, que as vivenciam nos momentos de lazer fora do ambiente escolar. Outras, integrantes de culturas diferentes, devem ser igualmente apresentadas e compreendidas por eles. Dessa forma, o uso do currículo cultural combate diversas discriminações sociais, pois leva o aluno a se reposicionar perante práticas não-hegemônicas. “Os alunos que estão passando por esse trabalho se tornam pessoas muito mais sensíveis à presença dessa variedade na escola e na sociedade mais ampla”, aponta o professor. “Ou seja, são alunos que têm uma postura de diálogo com o outro e de conhecimento do outro”.  

Tanto algumas linhas de formação acadêmica dos docentes de educação física quanto políticas públicas recentes (o município de São Paulo trabalha com a proposta há seis anos) visam implantar os benefícios do currículo cultural no ambiente escolar. Além disso, ambos os aspectos devem acontecer simultaneamente. Se um professor não se encontra preparado para ampliar as perspectivas de ensino, não será eficiente ao aplicar medidas determinadas pelas secretarias de Educação. Da mesma forma, as escolas devem possuir um coletivo docente sensível a esse novo olhar. Escolas voltadas para promover aprovações no vestibular, como exemplifica Neira, dificilmente adotarão propostas não hegemônicas de ensino.

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