ISSN 2359-5191

06/11/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 94 - Educação - Faculdade de Educação
Trabalho doméstico não prejudica meninas na escola
Apesar de terem mais tarefas em casa, elas vão melhor nos estudos que os irmãos
Fonte: Fahim Siddiqi /IPS

Em famílias de camadas sociais mais baixas cujos pais trabalham fora de casa, as tarefas domésticas, em sua maioria, são delegadas às meninas, enquanto seus irmãos ficam livres para o lazer. Entretanto, elas costumam ir bem melhor nos estudos, fenômeno que levou o Grupo de Estudos de Gênero, Educação e Cultura Sexual da Faculdade de Educação da USP (FEUSP) a realizar um trabalho qualitativo com algumas famílias da Zona Oeste de São Paulo.

Uma das coordenadoras do grupo, Marília Pinto de Carvalho, juntamente com os alunos de pós-graduação Adriano Senkevics e Tatiana Avila Loges, realizou uma pesquisa desde 2011, com oito famílias compostas por pelo menos uma menina e um menino que estudassem na mesma escola e fossem criadas pelas mesmas pessoas. O resultado disso foi o artigo “O sucesso de meninas de camadas populares: qual o papel da socialização escolar?”. A intenção era observar as diferenças de tratamento do ponto de vista dos adultos.

A pesquisa concluiu que a invariável responsabilização das meninas pelo trabalho doméstico não se torna um empecilho aos estudos, ao contrário do que se tende a pensar. Realizar tarefas monótonas e enfadonhas em um ambiente fechado faz com que elas vivenciem a escola com mais prazer que os irmãos, que gastam esse tempo com brincadeiras fora de casa. “Se, para eles, o momento de ir para a escola é um momento de deixar o lazer e ficar num lugar para fazer tarefas, para elas, é o momento de sair de casa, encontrar as amigas, encontrar pessoas da idade delas”, aponta Marília. “Coisas que elas, no dia a dia, muitas vezes não têm oportunidade”. Isso não necessariamente as leva a aprender, mas cria uma disposição para a escola maior que a encontrada nos irmãos.

Pensar no futuro

Durante a pesquisa também foi observado que as meninas tinham planos de futuro profissional que implicavam em escolaridade alta (medicina, biologia, artes cênicas e veterinária, por exemplo), comportamento não observado nos meninos da mesma idade, que não sabiam ou tinham uma ideia muito vaga do que queriam. Este fato, na visão de Marília, forma um círculo virtuoso: “o plano de futuro as faz se interessar mais pela escola e o fato de ir bem lhes permite pensar numa escolarização mais ao longo prazo, rompendo com as profissões das mães, de empregada doméstica, que elas não têm no horizonte”, afirma.

Os meninos, por sua vez, se envolvem mais concretamente com atividades de baixa qualificação, como fazem os pais e tios. Isso se deve em grande parte pela necessidade que sentem de obter renda a partir dos 15 ou 16 anos. Como não encontram boas oportunidades nesta faixa etária e não possuem alto nível de escolarização, são levados a buscar essas funções.

Essa questão, afirma Marília, é transversal à sociedade brasileira, segundo estudos estatísticos. O melhor desempenho escolar das meninas é observado no campo, na cidade, em setores populares, médios e em elites. Porém, é possível que o mesmo resultado seja fruto de processos diferentes. A questão do trabalho doméstico sendo realizado pelas filhas, por exemplo, praticamente inexistente nos setores médios. A pesquisa buscou focar, portanto, em um grupo específico para analisar melhor as causas do fenômeno. Marília conclui que são necessárias pesquisas nas outras camadas para que se tenha um quadro mais detalhado e completo.

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