Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, A experiência da reconstrução mamária para mulheres com câncer de mama, aponta para necessidade de a mulher ser devidamente informada sobre riscos e benefícios da cirurgia para que ela esteja segura sobre sua decisão e evite frustrações futuras sobre os resultados. A pesquisadora Aline Inocenti afirma que é importante haver troca de experiências entre as mulheres para auxiliar nesse processo e fazer com que a cirurgia seja uma alternativa válida na tentativa de reduzir os danos causados pela retirada da mama.
Motivada por uma experiência familiar de luta contra o câncer de mama e pela atuação no Núcleo de Ensino, Pesquisa e Assistência na Reabilitação de Mastectomizadas — Rema, em Ribeirão Preto, Aline foi levada a se questionar sobre os motivos que levam essas mulheres a optarem pela reconstrução mamária e como elas vivenciam o processo. Foram entrevistadas 14 mulheres submetidas ao processo cadastradas no Núcleo.
A partir das análises das entrevistas foram reconhecidos por Aline dois temas principais. O primeiro aborda o período vivenciado pelas mulheres entre o diagnóstico do câncer e a realização da reconstrução mamária, em que os sentimentos e as atitudes tomadas diante da descoberta da doença são apresentados, bem como se deu o processo decisório pela cirurgia reconstrutora. Como fatores determinantes nessa decisão, a pesquisa afirma que atuam o desejo de não se ver sem mama e a influência do médico. “Em alguns casos as experiências negativas relacionadas ao uso da prótese mamária externa, ou o medo do sofrimento causado pela mutilação da mama, fizeram com que as mulheres optassem pela realização da cirurgia reconstrutora como uma forma de recuperar a feminilidade e a tranquilidade para retornar ao convívio social”, diz Aline.
A compreensão da forma como a mulher se vê após a reconstrução, a percepção do que a cirurgia transformou em sua vida, como são percebidos seus benefícios e limitações, e o papel desempenhado pelas diversas redes de apoio em sua trajetória foram apresentados no segundo tema. Os resultados demonstram que as mulheres que enfrentaram complicações à curto prazo relacionadas à cirurgia, como infecções, contratura da prótese ou rejeição do tecido, manifestaram o medo de uma nova perda e o temor de vivenciarem novamente os sentimentos que tiveram no momento do diagnóstico e durante tratamento. Há também, na maioria dos casos, comprometimento na esfera sexual causado por complicações como cicatrizes e deformidades na mama. No entanto, apesar dos aspectos negativos mencionados, a pesquisadora afirma que maior parte das mulheres relatou que a cirurgia trouxe grandes benefícios às suas vidas. “A reconstrução proporciona a recuperação da autoimagem e a tranquilidade para manter ou iniciar um relacionamento afetivo, além do fato de ajudá-las a superar o trauma causado pela doença e pela mutilação.”
As redes de apoio estão presentes nas diversas etapas da doença. O suporte familiar desempenha papel importante e oferece auxílio principalmente nos aspectos financeiros e nos cuidados pessoais após a cirurgia. Amigos também foram mencionados durante as entrevistas como fonte de estímulo e apoio para realização da reconstrução.
Os resultados apresentados pela pesquisa, orientada pela professora Marislei Sanches Panobianco, oferecem subsídios para a implementação de ações no âmbito do atendimento às mulheres com câncer de mama, que devem abranger paciente, família e profissionais de saúde. Para melhorar a qualidade de assistência destinada à elas, medidas como o atendimento integrado entre os profissionais envolvidos no tratamento, de modo que haja discussão entre equipe e paciente sobre os diversos tipos de cirurgia, podem ser tomadas. Aline também afirma que avaliar a vontade da paciente em realizar a reconstrução e a relevância que a mesma terá em sua vida é crucial, assim como o acompanhamento psicológico, que deve estar presente durante todo processo.
Mais informações: ainocenti@yahoo.com.br