Gás não convencional (Shale Gas): Uma alternativa energética possível para o Brasil? foi o tema apresentado no Instituto de Geociências (IGc) da USP pelo geólogo, professor Colombo Celso Gaeto Tassinari. Vice-diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, o professor, que é especialista em geoquímica e geotectônica começou por uma correção: o nome gás de xisto é utilizado de forma errônea para designar o shale gas. O xisto consiste em uma rocha que não possui gás, tampouco óleo. O correto, de acordo com ele, é gás não convencional, ou de folhelho.
Ao contrário do gás convencional, que é encontrado em rochas reservatórias, porosas e permeáveis, o não convencional (metano, butano e outros hidrocarbonetos encontra-se em rochas geradoras (folhelho negro), também porosas, porém impermeáveis. Tais rochas são extremamente ricas em matéria orgânica, mas, devido a sua constituição, o gás não migra facilmente para fora. O shale gas fica preso entre os poros e grãos do folhelho, que tem granulação muito fina.
Outra diferença apontada encontra-se na forma extração: ao contrário do convencional, o shale gas é extraído horizontalmente, com perfuração do tipo espinha de peixe (ramificada). O fraturamento hidráulico da rocha é feito sob alta pressão pelo poço até se atingir a camada de rocha e consiste em injeções de água mais areia (98%) e reagentes (2%). A força tensora criada faz com que a rocha frature, e a areia permite que as fraturas abertas mantenham-se abertas ao mesmo tempo em que impede que o gás vaze. Já os reagente facilitam a saída do gás dos poros. Para que o gás não contamine aquíferos durante sua saída, o caminho da perfuração é cimentado para que o tubo de aço possa trazer o gás com segurança.
No Brasil
Com relação à importância do shale gas na economia, Tassinari diz que há um grande crescimento de sua da produção. Em 2025, estima-se que 49 % da produção de gás seja de gás de folhelho.
Já no Brasil, ainda há poucos gasodutos de gás não convencional. “A grande limitação no Brasil é a rede de gasodutos. Praticamente não existe. Não há infraestrutura como nos Estados Unidos”, diz Tassinari. O professor enfatizou, ainda, a comparação entre as duas nações.
Nos Estados Unidos, a produção é mais desenvolvida e, conforme ela aumenta, os custos caem bastante. Já no Brasil, eles provavelmente não diminuirão na mesma proporção com o desenvolvimento da produção. Um ponto a se considerar é grande potencial para o shale gas no país, no entanto, o professor frisa que no Brasil não há estudos suficientes na área, o que é primordial para o seu desenvolvimento. De acordo com ele, estima-se que haja nove vezes mais que as reservas de gás natural, e sua extração é mais barata. Ainda assim, não se espera que haja exploração comercial no Brasil antes de dez anos.
Questões ambientais
De acordo com Tassinari, apesar do revestimento dos poços de perfuração, não há garantia de 100% de segurança no projeto. Apesar da baixa permeabilidade da rocha, não se sabe ao certo os resultados que sucessivos fraturamentos podem ter, e caso haja vazamento, aquíferos podem ser contaminados. O professor citou que há estudos nos EUA sobre outras técnicas de fraturamento, nas quais, por exemplo, se utilizariam plantas, fibras e sementes no lugar dos produtos químicos.
Críticas surgem com relação à utilização de grande quantidade de água, além de impactos nas comunidades e na vida animal como trânsito de veículos, tremores (eventos sísmicos), por causa do faturamento e aumento de poeira. “Mas se pararmos para analisar, dos combustíveis fossei, o gás é o mais limpo deles. O shale gas é uma possibilidade que não se pode desconsiderar. O gás é fundamental para as termelétricas, por exemplo, porque é mais limpo”, completa Tassinari.