Os problemas ambientais enfrentados no cotidiano da gestão de áreas de risco geológico foram abordados no Instituto de Geologia (IGc) da USP pelo geólogo José Fernando Pires dos Santos, da área de defesa civil da Subprefeitura de Perus.
O geólogo que trabalha na cidade enfrenta problemas diários de ordem tecnológica, natural e social. Santos fala da falha referente a construções como vias, túneis, portos e canalizações de rios e córregos. “Muitos foram projetados por engenheiros sem a presença ou o parecer do geólogo, fato que pode acarretar conflitos operacionais posteriores por faltarem análises que envolvem a formação dos locais onde tais tecnologias serão implantadas e que certamente poderão acarretar em prejuízos para o desenvolvimento urbano”. As vias mal projetadas de um bairro, que não levam em conta as curvas de nivel (topografia), podem levar a formas nocivas ou inadequadas de ocupação e gerar conflitos ambientais posteriores, como processos erosivos acelerados, desplacamento de rochas e queda de barreiras”. Com relação aos problemas sociais, Santos citou as favelas, em geral construídas em zonas de risco e com acesso restrito a veículos, o que requer um cuidado maior por parte do geólogo.
O que concerne ao natural, além dos fenômenos climáticos, há o chamado “tecido urbano”, ou seja, a base natural de sustentação da ocupação em questão. “É preciso saber analisar que onde se tem determinadas rochas não se pode fazer certos procedimentos, enquanto outras podem resitir, ou seja, deve-se conhecer geotecnia para saber associar o natural com o antrópico e a geologia é a base dessa integração. O geólogo é, por natureza, um consultor nato em problemas ambientais”, frisa Santos.
Gestão ambiental e políticas públicas
Questionado sobre o quadro de gestão ambiental, Santos afirmou que faltam profissionais capacitados, no entanto, ressaltou que isso se deve à falta de valorização financeira dos profissionais por parte dos órgãos públicos, além de não existirem categorias fortes para lutarem por isso. “O Crea [Conselho Regional de Engenharia e Agronomia] que deveria levantar a bandeira do geólogo, nunca lutou pela disparidade salarial que existe oficialmente entre engenheiros e geólogos na Cetesb [Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, ligada à Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo]”.
Outra questão levantada pelo geólogo foi a falta de políticas públicas sérias para a área. “A Colômbia está avançando muito mais rápido que o Brasil, por exemplo, e essa é a chave da questão. Deve-se aumentar a resiliência dos sistemas, ou seja, quanto mais ‘preparados’, mais eles resistem e sabemos que isso demora. Alguns países que estão em áreas de risco natural, como o Japão, aumentaram sua resilência. Educação e tecnologia são armas poderosas para levar à criação de políticas públicas fortes”.