ISSN 2359-5191

14/11/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 99 - Economia e Política - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Militância feminina em partidos islamistas colabora para atrasos na emancipação
Fonte: Reuters

Em países muçulmanos vê-se uma considerável participação de muitas mulheres em partidos ou grupos islamistas desde os 80. Essa participação tem contribuído para atrasos e retrocesso nos direitos das mulheres em relação às leis e na real emancipação feminina, apesar de favorecer a presença das mulheres nos espaços públicos.

Tal conclusão foi encontrada por Cila Lima, em sua dissertação de mestrado, pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH/USP), sobre a situação e atuação de mulheres no fundamentalismo. Ela estudou o caso de dois países, Egito e Turquia. No primeiro, há um conservadorismo significativamente maior, mas há fortes restrições para os direitos femininos em ambos. No Egito, Cila estudou as mulheres dentro da Irmandade Muçulmana e, na Turquia, dentro do partido Refah Partisi (Partido do Bem-Estar), extinto em 1998, mas que ainda existe como movimento.

O objetivo era analisar em que ponto a participação das mulheres nesses movimentos poderia estar contribuindo ou bloqueando a emancipação feminina, considerando-a a partir dos critérios: autonomia na participação social e política e presença em espaços públicos.

O que se percebeu foi que, apesar de as mulheres que participam de organizações islamistas ocuparem mais os espaços públicos ao saírem para militar e preencherem espaços que antes lhes eram proibidos – o que já é uma certa subversão –, não há emancipação real. “Quando elas vão militar num partido islamista, já se tem um conservadorismo religioso, uma ortodoxia religiosa”, afirma Cila. O fato de muitas dessas militantes islamistas questionarem a validade do feminismo no Islã também influencia esse atraso.

No entanto, nem todas as islamistas são favoráveis a essa visão. Há mulheres nesse meio que apresentam ideias bastante progressistas e favoráveis aos direitos das mulheres apesar de negarem o termo feminismo. Um exemplo é Heba Rauf, militante de uma das instâncias de conselho das Irmãs Muçulmanas. Ela defende que não haja separação entre feminino e masculino, público e privado, e que as mulheres deveriam ter todos os direitos relacionados à participação política, a mandato político, até mesmo de ser presidente.

A questão é que há um descolamento entre o papel das mulheres e o dos homens nas organizações islamitas, mesmo na Turquia, onde a participação é um pouco mais aberta. Elas geralmente participam apenas dos setores de medidas sociais e nas tarefas de solidariedade, enquanto a decisão política fica a cargo dos homens, que, em geral, mantêm o caráter conservador dentro desses grupos.

Sendo assim, essas mulheres, mesmo as mais progressistas, participam de organizações que tentam impedir o avanço dos direitos femininos. No Egito, por exemplo, durante a reforma do código civil em 2000, a Irmandade Muçulmana fez com que se eliminasse uma medida que permitia que as mulheres viajassem sem a autorização por escrito dos maridos. O partido também conseguiu impor uma medida para atrapalhar a nova decisão de que as mulheres poderiam acionar o divórcio. Estas teriam que devolver os dotes recebidos. “E, no Egito, somente por volta de 25% das mulheres estão no mercado de trabalho. Então as mães divorciadas não teriam como alimentar seus filhos, e, consequentemente, esse divórcio não acontece”.

Cila Lima lembra a necessidade de se territorializar quando se estuda o mundo muçulmano, devido às diferentes em cada país. Sua pesquisa foi feita a partir de leituras bibliográficas e estudos de textos dos próprios islamistas tirados de uma grande rede de web sites destes. Sua dissertação tornou-se o livro Women and Islamism: the cases of Egypt and Turkey, que foi publicado pela editora alemã LAP Lambert.

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br