A pesquisadora Caroline Margonato Cardoso, do Instituto Oceanográfico da USP, realizou um estudo para monitorar a resistência dos peixes da espécie Pampo ao aumento de temperatura no ambiente. A variação de temperatura é um fator de grande influência no funcionamento do ecossistema marinho e na biologia das espécies.
Num contexto de aquecimento global, com o aumento gradual na temperatura do planeta, estudos como este são cada vez mais relevantes para traçar perspectivas sobre a vida nos oceanos. “Muitos artigos têm falado sobre a mudança geográfica dos seres marinhos, influenciada pela temperatura Eles mudaram o seu padrão de distribuição, o que vai afetar a composição e a estruturação dos ecossistemas.”
Por apresentarem grande importância comercial e ecológica, e serem animais pecilotérmicos, cuja temperatura do corpo varia com a do meio, os peixes são o modelo ideal para a pesquisa. “Escolhemos os Pampos porque são altamente adaptáveis em laboratório, não há perda de indivíduos por estresse e, quando juvenis, ficam na zona de arrebentação da praia e ficam sujeitos às mudanças de temperatura na água”, afirma Carolina.
Os peixes da espécie Pampo foram submetidos ao aumento controlado da temperatura da água, 2° Celsius por hora, a partir dos 22°C. Eles foram levados para um tanque onde permaneceram por alguns dias até o experimento, que foi realizado em aquários. “Para as análises comportamentais, os peixes foram filmados durante o período de patamar [no aquário].”
Foram observadas alterações no comportamento dos peixes. Conforme o ambiente se tornava mais quente os peixes ficavam mais agitados. “O comportamento foi analisado através de pontuações dadas para critérios como natação, batimento opercular e equilíbrio”. Uma das causas para este comportamento inquieto é a aceleração do metabolismo em temperaturas elevadas.
A importância do estudo foi justamente integrar o conhecimento da biologia celular ao comportamental. “Essa relação entre biologia celular e comportamento é de extrema relevância porque há estreita relação entre o jeito de agir dos seres vivos e o que acontece dentro deles.”
Proteínas dos peixes iguais às dos humanos
Após a eutanásia dos Pampos, que é uma norma ética de experimentos laboratoriais, o coração e as brânquias foram coletadas para análise. Segundo Carolina, os peixes contêm proteínas que são semelhantes às encontradas nos humanos. Elas se chamam ap53 e Hsp70. “Estas duas proteínas têm funções tão importantes nos organismos que elas se mantiveram conservadas na escala evolutiva de modo que as encontradas nos humanos são semelhantes às dos peixes”.